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21 de August de 2024
O Brasil tem dois terços do seu território (65%) coberto por vegetação nativa, mas a situação não é homogênea. Na mata atlântica, o bioma mais devastado ao longo da história do Brasil, temos somente 35% de vegetação nativa e 25% de florestas densas. Esse é apenas um dos dados revelados pela nova coleção do MapBiomas divulgada nesta quarta-feira (21).
O que restou de floresta na mata atlântica está abaixo do mínimo necessário para a manutenção da sua rica biodiversidade. Este quadro pode levar ao fim do próprio bioma e dos fundamentais serviços ecossistêmicos que ele proporciona.
A despeito de séculos de derrubadas de matas desde 1500, os dados apontam a perda de 5,2 milhões de hectares ou redução de 10% na área de vegetação nativa entre 1985 e 2023, o que equivale à área do Rio Grande do Norte.
A boa notícia é que desde 2006, quando foi publicada a Lei da Mata Atlântica, houve um aumento de 800 mil ha na área florestal. O bioma convive com o desmatamento e a regeneração simultaneamente.
Se acabarmos com o desmatamento, como assumido pelo governo federal, e potencializarmos a regeneração, temos um futuro promissor. Mas é sempre importante salientar que cada pequeno pedaço de floresta madura perdido pode nunca retornar ao que era antes e que uma espécie extinta foi-se para sempre.
Ocupando apenas 15% do território brasileiro (130 milhões de hectares e maior do que duas Franças), o bioma abriga 53% da área urbana nacional e 70% da população do país. As metrópoles da mata atlântica tem sido palco de tragédias ambientais, como a que ocorreu recentemente no Rio Grande do Sul e em anos passados no litoral de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, acentuadas pelas mudanças climáticas e pela destruição do bioma.
Devido aos extremos climáticos, estas mesmas regiões também têm sofrido escassez de água. Entremeada nestas cidades, está uma infraestrutura de estradas, rodovias, aeroportos, usinas hidrelétricas, parques industriais que sustentam por volta de 80% do PIB do Brasil e também dependem dos serviços da floresta.
O MapBiomas também nos mostra que 35% da área agrícola nacional está na mata atlântica, que é um grande produtor de commodities para exportação e o principal produtor de alimentos. Entre 1985 e 2022, a área de agricultura cresceu 84% ou 10 milhões de ha, próximo da área de Pernambuco.
Essa complexidade de alta biodiversidade, escassez de serviços ecossistêmicos, áreas com grande densidade urbana e populacional, alta importância para a segurança alimentar, grande pressão por terra para a expansão das cidades e produção agropecuária é a marca contemporânea da mata atlântica. As mesmas questões se repetem nos outros biomas brasileiros, que também estão em trajetória de destruição.
Porém, a situação é mais aguda naquele que iniciou a sua trajetória de destruição primeiro. Mas, como destacou o último relatório síntese do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o mundo reúne conhecimento, tecnologia e capital para alcançarmos a meta de aquecimento de 1,5°C do Acordo de Paris.
A solução das crises do clima e da biodiversidade e um futuro seguro estão ao nosso alcance. A responsabilidade está nas instituições públicas e privadas que nesta década tomarão as decisões que vão definir o futuro do mundo.
Concentrando grande parte da riqueza, os maiores centros de pesquisa, governança para combater o desmatamento, um grande acúmulo em projetos de restauração florestal, a mata atlântica tem tudo para ser o embrião deste futuro próspero e ser uma referência para os demais biomas do Brasil e do mundo.
por Luis Fernando Guedes Pinto
Diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica e membro da Rede Folha de Empreendedores Sociais
e Natalia Crusco
Trabalha na Arcplan e coordena a equipe da mata atlântica do Mapbiomas
para a Folha de S. Paulo