Bahia, pare de desmatar a Mata Atlântica!

22 de June de 2016

Artigo de Marcia Hirota e Mario Mantovani* originalmente publicado no Jornal A Tarde - De acordo com os dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica divulgados no último dia 25, a Bahia foi o segundo Estado que mais desmatou o bioma entre os anos de 2014 e 2015. Em relação ao ano anterior, houve uma redução de 14% no desmatamento, passando de 4.672 para 3.977 hectares (ha). Esta é a segunda queda consecutiva do desmatamento no Estado, mas um indicador inaceitável que a mantém entre os líderes no ranking da destruição dessa que é a floresta mais ameaçada do país. O estudo é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com patrocínio de Bradesco Cartões e execução técnica da empresa de geotecnologia Arcplan. Minas Gerais, que também vinha de dois anos de queda nos níveis de desmatamento, voltou a liderar o ranking, com decréscimo de 7.702 ha (alta de 37% na perda da floresta). Já o Piauí, campeão de desmatamento entre 2013 e 2014, ocupa agora o terceiro lugar, após reduzir o desmatamento em 48%, caindo de 5.626 ha para 2.926 ha. O que os três Estados têm em comum, além da vergonhosa liderança? Os desmatamentos foram identificados nos limites do Cerrado, outro bioma brasileiro ameaçado por um modelo errôneo de desenvolvimento. Na Bahia, os maiores desmatamentos aconteceram em regiões de fronteira agrícola, como nos municípios de Baianópolis (824 ha) e Brejolândia (498 ha). Originalmente, a Bahia contava com cerca de 18 milhões de hectares do bioma. Desse total, restam hoje pouco mais de 2 milhões de hectares, 11% do que um dia já foi Mata Atlântica. O motivo para tamanha devastação está na própria história do Estado, já que sempre tivemos um modelo de desenvolvimento que em todos seus ciclos econômicos se apoiou erroneamente no desmatamento como uma ferramenta para geração de riqueza. Importante destacar que a Bahia, assim como os outros 16 Estados do bioma, é um dos signatários da carta “Nova História para a Mata Atlântica”, no qual as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente assumiram em maio de 2015 o compromisso de investir em restauração florestal e alcançar o desmatamento ilegal zero até 2018. Passado o primeiro ano do pacto, os dados apresentados pelo Atlas não apenas frustram a expectativa de já assistirmos os primeiros passos da erradicação do desmatamento, como apontam o quanto ainda precisa ser feito para que essas metas se tornem uma realidade. A perda das florestas e dos serviços que prestam, como a conservação de recursos hídricos, tem impacto negativo e direto sobre a qualidade de vida dos moradores das cidades. Considerando que 72% dos brasileiros habitam a região originalmente coberta pela Mata Atlântica, preservar o que restou e recuperar o que se perdeu tornou-se uma questão de sobrevivência. Além disso, a Mata Atlântica que ainda resta em pé é um ativo econômico cada vez mais importante para Estados e municípios. A prestação de serviços que vão da polinização à conservação da água e a estabilidade dos solos também faz da floresta uma importante aliada da agropecuária, atividade da qual ainda dependem muitos de seus Estados, como a Bahia. E o bioma, o mais próximo dos grandes centros urbanos, traz ainda uma série de oportunidades para o ecoturismo, um potencial ainda pouco aproveitado no país. Só quando a agenda ambiental estiver no centro das decisões políticas, sociais e econômicas da gestão pública é que daremos um passo estratégico para que nosso país se desenvolva de forma sustentável. Como aponta a carta “Nova História para a Mata Atlântica”, a sociedade não admite mais que o desmatamento de nossas florestas, um patrimônio nacional, seja o preço a pagar pela geração de riqueza. E o governo baiano precisa ouvir esse recado: Bahia, pare de desmatar a Mata Atlântica! *Marcia Hirota e Mario Mantovani são, respectivamente, diretora-executiva e diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, ONG brasileira que desenvolve projetos e campanhas em defesa das Florestas, do Mar e da qualidade de vida nas Cidades. Saiba como apoiar as ações da Fundação em www.sosma.org.br/apoie.

Compartilhar nas redes: