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20 de March de 2015
É um enorme equivoco reduzir as faixas de proteção de rios, nascentes e mananciais e desobrigar proprietários de terras de recuperá-las, com base em critérios científicos e técnicos, para seguir parâmetros fiscais que se baseiam no tamanho das propriedades rurais e em usos do solo, com o objetivo de promover a regularização de atividades, até então irregulares. Uma decisão, inclusive, muito distante de um modelo de agronegócio moderno e sustentável.Os impactos negativos do Código Florestal, aprovado em 2012, já estão sendo comprovados por meio do aumento do desmatamento nas florestas Amazônica e na Mata Atlântica, anunciados recentemente pelo Imazon e pela SOS Mata Atlântica, esse segundo com base nos dados do Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. O aumento no desmatamento resultou na diminuição das chuvas nas regiões de mananciais, no assoreamento de reservatórios e rios e no agravamento da escassez de água na região Sudeste. Outra questão é que a pretensa regularização de áreas desmatadas em regiões de mananciais, próximas às grandes cidades e regiões metropolitanas, pode criar uma espécie de reserva de mercado com novas fronteiras para o setor imobiliário, substituindo rapidamente áreas rurais por zonas de expansão urbana. Essa troca drástica de usos do solo dificultará ainda mais a conservação e a proteção dos reservatórios e mananciais. Estudo da SOS Mata Atlântica divulgado em outubro de 2014 constatou que a cobertura florestal nativa na bacia hidrográfica e nos mananciais que compõem o Sistema Cantareira, centro da crise no abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo, está muito abaixo dos níveis ideais e deve ser recuperada. Restam apenas 488 km2 (21,5%) de vegetação nativa na bacia hidrográfica e nos 2.270 km2 do conjunto de seis represas que formam o sistema. Portanto, não restam dúvidas de que o desmatamento da Mata Atlântica tem relação direta com a escassez da água na região sudeste. Menos proteção florestal significa também menos água. Diante dessas ameaças e da necessidade de minimizar os impactos decorrentes do afrouxamento das leis ambientais, o Estado de São Paulo está concentrando esforços em um amplo programa de recuperação florestal para os mananciais das bacias hidrográficas do Sistemas Cantareira e Alto Tietê.
Queremos um grande pacto por água e florestas que envolva Estados, Municípios, sociedade civil, iniciativa privada, produtores rurais e organismos de bacia, na indicação de áreas prioritárias para restauração florestal voltadas a água, em quantidade e qualidade.De forma ainda tímida, São Paulo dá início a recuperação florestal em seus mananciais, quase secos. Mas, é preciso que o Poder Legislativo também se envolva, ouça a sociedade e a ciência e reconheça o descompasso entre as votações ocorridas e as reais necessidades para enfrentamento de eventos climáticos e das demandas por água, nas cidades e no campo. Além disso, se faz necessário também definir instrumentos de apoio e incentivo à conservação, como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) – tema desvalorizado no projeto aprovado pelos deputados paulistas. Um texto legal que estabelece critérios para um programa de regularização ambiental, com base no modulo fiscal e no tamanho das propriedades, sem considerar os biomas brasileiros e a dinâmica dos rios e mananciais que formam as bacias hidrográficas, não pode ser considerado um Código Florestal, e sim, quando muito, um Código Rural ou de produção agropecuária. Importante lembrar que o novo Código Florestal é objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade, movida pelo Ministério Público Federal, em três questões que ainda estão sendo julgadas e que, por pressão da sociedade, foram vetadas pelo Governador de São Paulo na regulamentação paulista. Dessa forma, o Estado de São Paulo, que sempre foi referência no país no que se refere a inovações e tecnologia na área ambiental, começa a reagir, ainda que timidamente, contra as distorções da lei federal, plantando árvores nas áreas de manancial, em metragens e proporções maiores que as estabelecidas no novo Código Florestal. *Pedro Luiz Passos, empresário, é presidente da Fundação SOS Mata Atlântica. As ações da Fundação dependem da ajuda de pessoas e empresas para continuar. Saiba como você pode apoiar em www.sosma.org.br/apoie.