por Luis Fernando Guedes Pinto
Diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica e membro da Rede Folha de Empreendedores Sociais
e Afra Balazina
Diretora de Comunicação da SOS Mata Atlântica
Os líderes mundiais chegam ao final da COP27 (Conferência do Clima da ONU, realizada no Egito) nos entregando um planeta na rota de chegarmos perto de 3
oC de aquecimento até 2100, o que significa um futuro trágico. Os países não aumentaram as suas ambições e não chegaram a um acordo sobre o fim dos combustíveis fósseis, o maior responsável pelo aquecimento. A grande conquista foi a
criação de um fundo de perdas e danos, mas ainda estamos longe de o dinheiro chegar para os países que já sofrem com a mudança do clima.
O Brasil chegou a Sharm el-Sheikh como o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, com
aumento de 12% das emissões em 2021 (em relação a 2020) e com o maior desmatamento da Amazônia no mês de outubro desde 2015. Apresentou-se ao mundo dividido, com três pavilhões no espaço de exposições da COP: o oficial, do governo federal, o de uma aliança dos governadores da Amazônia e o plural e pujante espaço da sociedade civil.
Sem protagonismo na agenda oficial, a participação do governo brasileiro foi uma melancólica despedida de um cético da mudança climática que nos transformou em pária ambiental. O desfecho foi uma "menção desonrosa" de "Fóssil do Ano". O prêmio máximo foi concedido aos Estados Unidos pelas dificuldades criadas para a criação do fundo de perdas e danos. Tal posição foi um banho de água fria para a justiça climática.
Mesmo com a insipida participação oficial, o Brasil foi um dos destaques da COP devido à notável
passagem do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com participações em momentos decisivos das negociações climáticas, como na sua fala na COP15 em Copenhague, em 2009, e com o legado de ter reduzido drasticamente as emissões do Brasil durante seu governo, Lula mostrou novamente sua liderança e prestígio internacional.
Em vez de chantagear o mundo para a entrega de resultados, como foi a tônica do governo que se despede, reconheceu a urgência das mudanças do clima e
o papel central do Brasil para contribuir para as suas soluções. Assumiu compromissos ambiciosos, mas necessários e compatíveis com um país que pretende retomar o seu papel de potência ambiental global.
O fim do desmatamento de todos os biomas até 2030 está entre eles. Colocou a questão climática no centro do seu governo, tornando as expectativas muito altas e com grandes obstáculos a serem superados. Estes exigirão um novo pacto da sociedade brasileira, em que nenhum setor pode ficar de fora.
Foi firme em cobrar dos países ricos e desenvolvidos a responsabilidade pelo financiamento internacional. Voltou para casa com o aceno de países dispostos a colaborar com os desafios nacionais. A Noruega e a Alemanha já haviam sinalizado o interesse em voltar a aportar recursos para o Fundo Amazônia, paralisado pelo atual governo.
O Brasil voltou para a vitrine do mundo, mas os desafios que temos à frente para garantirmos um futuro climático seguro e justo para as próximas gerações permanecem gigantescos e urgentes. Há muito pouco tempo para a virada.
Além de discursos, as ações e os resultados precisam ser imediatos.
Publicado originalmente na Folha Online.