Por Marcia Hirota*
João Paulo Capobianco foi o responsável por trazer Mario Mantovani à Fundação SOS Mata Atlântica. No início dos anos 1990, o Capô, na época nosso Superintendente, tinha a missão de montar uma equipe para tocar uma campanha em defesa do rio Tietê com a rádio Eldorado, apresentando dois nomes a João Lara Mesquita. “O primeiro é muito bom, mas precisa ser empurrado. O segundo é um alucinado pela ação, um guerrilheiro”, disse, ao que João Lara respondeu: “É o segundo que quero”. Foi assim que Mario, após passagem pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), veio fazer parte da equipe da SOS Mata Atlântica, provando o acerto da decisão de Mesquita.
Essa história está registrada no livro A Mata Atlântica é aqui. E daí? – História e luta da Fundação SOS Mata Atlântica, de Ana Augusta Rocha e Fabio Feldmann. Desde 1991 trabalhando juntos, aprendemos muito, apanhamos bastante e, unidos, celebramos grandes realizações e conquistas. Acima de tudo, rimos muito ao longo desses anos, porque o Mario é pura alegria.
A primeira concretização liderada pelo Mario foi a maior campanha que o Brasil já fez pela despoluição de um rio, o Tietê. Numa época em que tudo era analógico, um milhão e duzentas mil pessoas endossaram, com RG, um abaixo-assinado entregue ao Governo do Estado de São Paulo. Graças a essa campanha nasceram o primeiro programa de restauração florestal da SOS Mata Atlântica, o Reflorestando o Tietê, e o Observando o Tietê, programa de monitoramento da qualidade da água do rio, iniciativa que foi ampliada e desenvolvemos até hoje com a participação de mais de 3 mil voluntários nos 17 estados da Mata Atlântica e no Distrito Federal.
E assim, aceitando muitos desafios, foi toda a sua trajetória de sucesso, inicialmente voltada aos recursos hídricos e, depois, às políticas ambientais e de proteção da Mata Atlântica.
Mario sempre foi uma pessoa incansável. “Topo!” é sua resposta para tudo, mesmo sem saber a pergunta. Eu o conheci antes da SOS Mata Atlântica, no Vale do Paraíba, quando ele coordenava um programa de caracterização ambiental da Cetesb, visitando todos os municípios de São Paulo, e eu desenvolvia uma pesquisa sobre as tradições populares da região. Ele já tinha uma história pretérita como militante, tendo participado da luta contra uma usina nuclear na região da Jureia, mas foi durante os 30 anos na SOS Mata Atlântica que se tornou a personificação da defesa do meio ambiente.
Ajudou a criar a Anamma (Associação Nacional dos Órgãos Municipais de Meio Ambiente), a Frente Parlamentar Ambientalista e muitas ONGs brasileiras, participando ainda de inúmeros conselhos e colaborando com a formação de grandes lideranças ambientais do país. É o próprio jacaré Teimoso, que apareceu no Tietê em 1990 e se tornou símbolo da despoluição do rio, convocando e mobilizando a sociedade.
Agora, após passar o bastão para a Malu Ribeiro, que assumiu a diretoria de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani parte para novos desafios, mas, certamente, sem jamais deixar de fazer o que mais gosta – e faz tão bem: lutar em prol de boas causas ambientais, viajando pelo Brasil e por todo o planeta, repleto de entusiasmo, falando com todo mundo e inspirando quem cruza seu caminho.
Tenho certeza que continuaremos juntos na luta, seja pela amizade que construímos ao longo dos anos quanto pelos sonhos em comum por um Brasil e um mundo mais sustentável.
Mário Mantovani poderá ser contatado agora pelo email:
mario.mantovani@anamma.org.br.
*Marcia Hirota é diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica.