Quatro décadas de transformações na Mata Atlântica

05 de November de 2025

Natalia Crusco e Luís Fernando Guedes Pinto para O Eco

Em 1985, havia 34 milhões de hectares de florestas no território protegido pela Lei da Mata Atlântica, o que corresponde a apenas 26% da sua área total, que ocupa 15% do território nacional e ocorre em 17 estados do país. Em 2024, a área florestal ficou ainda menor, se reduzindo a 31 milhões de hectares ou 24% da área do bioma. O restante foi devastado ao longo dos mais de 500 anos desde o início da colonização do nosso país que, curiosamente, tem como nome uma árvore da Mata Atlântica ameaçada de extinção – o Pau Brasil.

Esse retrato é apenas a primeira camada revelada pela décima coleção do Mapbiomas, que reúne 40 anos da evolução da cobertura e uso da terra do Brasil. Essa poderosa iniciativa nos mostra um país com profundas transformações no uso da terra, onde 108 milhões de hectares de vegetação nativa foram substituídos neste período, principalmente para a expansão agropecuária. Houve um enorme aumento da área cultivada e da produção, mas com altos custos ambientais e sociais, com a riqueza e os prejuízos distribuídos de maneira desigual em nossa sociedade e afetando todo o planeta.

Na Mata Atlântica não foi diferente neste período e nem ao longo dos últimos séculos, quando o bioma foi devastado para gerar energia, alimentar a população, exportar commodities e abrigar as maiores cidades do país. Mas uma análise detalhada dos 40 anos dos Mapbiomas nos permite entender melhor o passado recente e tecer cenários para o futuro.

A década de 1985 a 1994 teve a maior taxa de desmatamento, com a conversão de 5,8 milhões de hectares de florestas para a agropecuária. Na década seguinte, entre 1995 e 2004, a taxa de desmatamento ficou estável, com a conversão de mais 3,8 milhões de hectares (área próxima do estado do Rio de Janeiro). Entre 2005 e 2014 tivemos a década da regeneração, quando a área de recuperação florestal foi maior do que a área desmatada, com um ligeiro aumento da área florestal total.

Este resultado colhe os efeitos positivos da publicação da Lei da Mata Atlântica em 2006. Reconhecendo o risco do colapso da Mata Atlântica e o seu valor como patrimônio nacional, esta lei passou a proteger a vegetação do bioma e condicionou o corte de florestas à situações excepcionais. Na década seguinte (entre 2015 e 2024), voltamos para uma condição de luz amarela, com uma preocupante equivalência entre a área desmatada e a área recuperada, mesmo com a publicação do Código Florestal em 2012, que deveria conduzir uma vigorosa recuperação das florestas.

Outros destaques desses 40 anos foram a duplicação das áreas urbanizadas, a conversão de 11 milhões de hectares de pastagem para agricultura, a multiplicação em cinco vezes da área de silvicultura e a lamentável perda de 30% da área de formação de campos naturais.

O olhar dos 40 anos em quatro décadas mostra o dinamismo da Mata Atlântica e a possibilidade de apostar em um futuro esperançoso. Mas isso não depende somente de uma matemática entre quanto perdemos e quanto ganhamos de floresta. Não podemos perder mais nada do que temos. Cada pedaço de floresta madura perdida é insubstituível para a biodiversidade e para os serviços ecossistêmicos dos quais dependemos.

O futuro é o desmatamento zero já e a recuperação da floresta em grande escala. A Mata Atlântica será o primeiro lugar do mundo onde isto será alcançado. A história de sucesso que mostraremos em 2035 servirá como exemplo de enfrentamento das crises globais do clima e da biodiversidade para a Amazônia e para o mundo.

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