Entre os meses de outubro de 2022 e de 2023, a Fundação SOS Mata Atlântica e o INPE observaram o desflorestamento de 14.697 hectares (ha) do bioma, o correspondente a
mais de 14 mil campos de futebol de futebol em um ano e à emissão de 7,032 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera, similar às emissões do país Cabo Verde em 2020.
Embora esse número represente uma redução de quase 27% em relação ao detectado em 2021-2022 (20.075 hectares), o desmatamento ainda é grande para um bioma tão degradado quanto a Mata Atlântica, que possui menos de 30% de sua cobertura florestal original.
Os dados do Atlas mostram diminuição do desmatamento em grande parte dos 17 estados da Mata Atlântica – as exceções foram Piauí, Ceará, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, que costumam estar entre os que lideram o ranking de derrubadas, desta vez se destacaram positivamente, com queda de, respectivamente, 57%, 78% e 86% nas taxas.
Quatro estados acumularam 90% do desflorestamento: Piauí (6.192 ha), Minas Gerais (3.193 ha), Bahia (2.456 ha) e Mato Grosso do Sul (1.457 ha).
Os 10 municípios com maiores áreas desflorestadas acumularam 30% do desflorestamento total, se localizando no Piauí, Mato Grosso do Sul, Bahia e Minas Gerais. Apenas 0,9% das perdas ocorreu em áreas protegidas, enquanto 73% ocorreram em terras privadas. 23% ocorreram em terras sem registro público georreferenciado.
A queda de 27% do desflorestamento interrompe um período de dois anos de perdas acima de 20.000 hectares. Porém, os 14.697 ha suprimidos de florestas estão acima dos valores obtidos em 2018, 2019 e 2020. Este é um valor alto, considerando-se que se trata dos 12,4% de matas maduras da Mata Atlântica, onde estão os maiores remanescentes, mais bem conservados, com maior estoque de carbono e maior biodiversidade. Estes são reconhecidos como Patrimônio Nacional, pela Constituição Federal, e protegidos por uma lei especial - a Lei da Mata Atlântica.
Esta situação está na contramão de estudos internacionais que apontam a Mata Atlântica como um dos biomas prioritários no mundo para ser restaurado, considerando sua contribuição para a conservação da biodiversidade e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Ademais, a conservação e a restauração do bioma são fundamentais para garantir serviços ecossistêmicos e também evitar desastres e tragédias para 70% da população e 80% da economia brasileira. A nova trajetória de redução deve ser consistente e pavimentar o caminho para que a Mata Atlântica seja o primeiro bioma do país a alcançar o desmatamento zero, antes de 2030.