Afra Balazina, de Sharm El-Sheik*
Em evento na 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas COP-27, em Sharm El-Sheikh, no Egito, representantes de diferentes organizações ligadas ao
Observatório do Clima (OC) reforçaram que, apesar da alta nas emissões de gases-estufa do país e dos retrocessos da atual gestão federal, o Brasil tem condições de cumprir suas metas e compromissos climáticos e se tornar negativo em carbono até 2050.
Para isso, deve conter o desmatamento das florestas, restaurar as matas, cuidar das áreas devolutas e protegidas, cortar o uso de energias fósseis e priorizar as limpas.
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório, ressaltou que os últimos quatro anos foram muito difíceis para quem trabalha com clima e meio ambiente, educação, direitos humanos e saúde. “Esse grupo de 77 organizações resistiu nesse período e olhou para o futuro, elaborou uma visão do potencial do país. O primeiro passo para implementar essa visão mostra que é possível não só ser carbono neutro, mas carbono negativo em 2050”, afirmou.
> Veja o que o OC espera da COP27
Tasso Azevedo, coordenador da Rede MapBiomas e do OC, mostrou dados das emissões brasileiras - o país é o quinto maior emissor do mundo - e chamou a atenção para o aumento de 12% em um ano, chegando ao maior índice desde 2006. Ele explicou que o país não cumpriu a meta do Plano Nacional de Mudança Climática, que previa redução de 36,1% a 38,9% nas emissões em 2020, em relação ao projetado para aquele ano. Em vez de chegar aos 2,068 MTCO2e (milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente) que era o alvo, as emissões ficaram em 2,304 MTCO2e.
“Se zerarmos o desmatamento temos 77% de redução nas emissões. E com redução de emissões de metano é absolutamente possível até 2045 o Brasil ser carbono neutro”, afirmou. E, para ajudar nas remoções de gases-estufa da atmosfera e o país se tornar negativo em carbono, eles consideraram, por exemplo, as áreas protegidas, a restauração de florestas e o armazenamento de carbono no solo.
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Especialistas do Observatório do Clima em evento paralelo na COP27.
Brenda Brito, doutora em ciência do direito e pesquisadora do Imazon, ressaltou que não é preciso abrir novas áreas para a agropecuária. “É possível aumentar a produção em áreas já abertas e reduzir áreas de pastagens”, afirmou. Ela mostrou também que existe 29% de áreas devolutas na Amazônia, que são extremamente pressionadas. E apresentou um gráfico em que, conforme o desmatamento reduzia ao longo dos anos, a produtividade agrícola aumentava na Amazônia, confirmando que as duas ações são compatíveis. “Nós sabemos como fazer. Mas sabemos também que não será fácil, precisa de vontade política. A sociedade civil resistiu a retrocessos no Executivo e no Congresso, e isso nos fortaleceu. A sociedade civil está madura para criticar também [o próximo governo] se necessário.”
Luís Fernando Guedes Pinto, doutor em fitotecnia e diretor executivo da SOS Mata Atlântica, divulgou um estudo animador sobre as emissões na Mata Atlântica – embora reconheça que a situação atual no país requer muita atenção, com desmontes realizados pelo governo federal, no Congresso e também em alguns governos estaduais, com o objetivo de flexibilizar a legislação ambiental.
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