Desmatamento nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica pode agravar crise hídrica no Brasil
20 de August de 2021
- 35 das 47 bacias hidrográficas das Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos da Mata Atlântica sofreram desmatamento entre os anos de 2019 e 2020
- Dez delas concentram 80% do desmatamento total das bacias do bioma em Estados como Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Bahia
- Divulgação dos dados ocorre no momento em que Brasil vive pior crise hídrica dos últimos cem anos na Região Sudeste
O desmatamento da Mata Atlântica vem atingindo também as principais bacias hidrográficas que compõem o bioma. Das 47 localizadas em Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHs), 35 tiveram desflorestamentos em suas áreas entre 2019 e 2020 – sendo que dez delas concentram 80% do desmatamento total nas bacias. Os dados são do Atlas da Mata Atlântica, estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, unidade vinculada ao Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (INPE/MCTI).
Bacias hidrográficas compreendem o território de drenagem de rios e nascentes que fluem para o rio principal, que é alimentado por seus afluentes e subafluentes. A gestão integrada do solo, das florestas e da água no território da bacia hidrográfica é estratégica para a segurança hídrica. O Atlas revela que as bacias que concentram o desmatamento no período estão entre as mais importantes do bioma Mata Atlântica. De acordo com o ranking, as bacias dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Pardo, Iguaçu, Doce, Paraguai, Paraná, Uruguai, Paranapanema e as Bacias Litorâneas Estaduais da Bahia são as mais afetadas (ver tabela abaixo).
Se o Sul e o Sudeste do Brasil já vivem a pior crise hídrica dos últimos 100 anos, esse cenário pode deixar o país em situação ainda mais crítica no que diz respeito ao abastecimento, à geração de energia e à irrigação para a produção de alimentos. “O relatório que acaba de ser divulgado pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) neste mês de agosto deixa claro que a crise climática se tornará cada vez mais grave, com eventos extremos se tornando frequentes, caso nossa sociedade não tome medidas urgentes. O desmatamento crescente nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica, no entanto, mostra que não estamos dando atenção aos alertas da ciência e da própria natureza ”, afirma Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica.
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Foto: Filipe Lindo
Rio Paranapanema
Luis Fernando explica ainda que, mais do que acabar com o desmatamento, a restauração das florestas é essencial para tentarmos evitar um cenário de catástrofe. “O reflorestamento é fundamental para nos garantir alimentos, água, energia, comida e, claro, reduzir os efeitos das mudanças climáticas. E a restauração da Mata Atlântica, especificamente - que concentra 70% da população do Brasil e responde por 80% da nossa economia - geraria benefícios não só para a população e a economia nacionais, mas também para o planeta e a humanidade como um todo”, completa.
As bacias atingidas estão localizadas nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, e estão em estados como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Distrito Federal.
“A segurança hídrica depende de soluções baseadas na natureza, especialmente nesta década da Restauração dos Ecossistemas, instituída pela ONU para que países e sociedade se unam no esforço conjunto de recuperar as florestas. E a Mata Atlântica é essencial para garantir os serviços ambientais de mantenedora do ciclo hidrológico”, alerta Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica. “Sem a mata, as nascentes são impactadas, não há recarga de aquíferos e os rios e reservatórios ficam ameaçados por eventos climáticos como secas e cheias. O desmatamento impacta o solo e provoca erosão, o assoreamento nos rios e enchentes”, conclui.
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Foto: Ismael Rocha
Represa do Jaguari, em Joanópolis (SP), faz parte do Sistema Cantareira.