Por Mônica C. RibeiroConhecido como um dos atores mais versáteis de sua geração, Mateus Solano vem se destacando nos últimos anos, em paralelo à carreira artística, como ativista ambiental. Atua como defensor da Campanha Mares Limpos, da Organização das Nações Unidas (ONU), e é embaixador da Campanha Geração do Amanhã da Globo, que promove atividades que reforçam o compromisso da emissora em divulgar os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU. Com 41 anos e mais de 20 de carreira, Solano tem larga atuação em TV, cinema e teatro, e também na defesa da natureza. Um contato que começou na infância, frequentando parques e o Jardim Botânico no Rio de Janeiro, e se expandiu cada vez mais. Hoje o artista e ativista usa suas redes para chamar a atenção para as questões ambientais urgentes do planeta.“Não acho que seja obrigação de ninguém se posicionar em redes sociais. Mas, hoje em dia, essa ferramenta é muito poderosa e eu resolvi utilizá-la, não só para expor a minha vida pessoal, mas também para chamar a atenção daqueles que me seguem para a questão ambiental que, para mim, é a questão das questões”, diz ele.No dia a dia e com os filhos, Solano busca dar o exemplo com ações cotidianas de cuidado com o meio ambiente, e acredita que o assunto deveria tocar todas as pessoas como exercício de cidadania. “Não somos criados para sermos cidadãos ativos, termos noção dos nossos direitos e deveres. Somos educados para comprar, comprar, comprar e isso é um grande obstáculo para o mundo sustentável em que precisamos viver. Enquanto sociedade civil precisamos nos organizar para sermos o futuro que queremos.”Você costuma dizer que foi criado como filho da natureza e não como dono dela. Qual a sua primeira memória do contato com a natureza?Me lembro das inúmeras idas ao Jardim Botânico [no Rio de Janeiro] com minha mãe e meu irmão, onde ela sempre mostrava, maravilhada, os detalhes minúsculos e grandiosos da natureza. Minha relação com a Mata Atlântica vai desde o Jardim Botânico, passando por muitas trilhas aqui pelo Parque da Floresta da Tijuca e, mais tarde, pelo Parque da Pedra Branca, onde fui intensificando mais e mais o defensor da natureza que sou hoje.Como a sustentabilidade e a relação com a natureza se materializam no seu dia a dia, nas rotinas e afazeres?De várias formas, e em cada vez mais formas porque, a partir do primeiro gesto que tomei na direção de uma vida mais sustentável, os outros foram se somando naturalmente. Então, desde o meu consumo que é consciente, das empresas que escolho, que privilegiam o meio ambiente, que têm um olhar para um futuro mais sustentável e já têm ações sustentáveis na confecção, na embalagem e na distribuição do seu produto, privilegiando pequenos produtores e os orgânicos, trazendo para a minha casa energia fotovoltaica, fazendo compostagem no meu jardim, aproveitando água da chuva para meu consumo.... e no dia a dia, saindo de casa sempre com garrafa d'água para não consumir plástico, com sacolas retornáveis.Como você aborda esse tema com os filhos e como vê a relação dessa agenda e o público infantil?Meus filhos têm um exemplo vivo, que é muito mais efetivo do que um exemplo falado, discutido, apenas dito. Outro dia mesmo mandei uma mensagem carinhosa para a direção da escola de um dos meus filhos dizendo que não adianta nada falar de sustentabilidade e seguir com copo plástico descartável fazendo parte do dia a dia das crianças. Então, o tempo todo meus filhos estão em contato com um pai e com uma mãe que se preocupam e que agem no sentido de serem mais sustentáveis e de chamarem a atenção para as pessoas e instituições que estão à volta para serem mais sustentáveis. Creio que o público infantil é um alvo sempre fundamental, mas já passou da hora de começarmos a fazer, ao invés de delegarmos a responsabilidade para as futuras gerações.Qual a importância de usar suas redes, seus lugares de atuação com o mundo, enquanto pessoa pública, como espaço para defender a sustentabilidade e a natureza? Você tem feito muito isso, inclusive durante a pandemia.Foi uma escolha minha. Não acho que seja obrigação de ninguém se posicionar em redes sociais. Não acredito que cidadania se faça apenas através do mundo virtual, mas se juntando em grupos que acreditam nas mesmas coisas e saindo de casa para resolver os problemas do seu bairro, da sua cidade, do seu país. Mas, hoje em dia, essa ferramenta é muito poderosa e eu resolvi utilizá-la, não só para expor a minha vida pessoal, mas também para chamar a atenção daqueles que me seguem para a questão ambiental que, para mim, é a questão das questões.Esse seu ativismo se deve a um interesse pessoal pelo tema ou você acredita que é um papel social que deveria ser exercido por todos aqueles que têm um espaço de influência na sociedade?As duas coisas. Creio que é um assunto que deveria tocar a todos, mas isso acontece muito pouco. Em parte, porque vivemos numa sociedade que privilegia o consumo em detrimento da cidadania. Não somos criados para sermos cidadãos ativos, termos noção dos nossos direitos e deveres. Somos educados para comprar, comprar, comprar e isso é um grande obstáculo para o mundo sustentável em que precisamos viver.Como tornar acessível tantos dados e informações, às vezes tão complexos, para o público geral? Como engajar a partir da informação?Creio que esta seja a grande dificuldade: sensibilizar a humanidade para a questão. Nem tanto pelo volume das informações, mas talvez porque o problema não parece tão próximo quanto ele está. E a humanidade, historicamente, só muda seu prumo quando a corda está no pescoço. Mas, convenhamos, estar com a corda no pescoço quando o assunto é o meio ambiente não será nada agradável. Portanto, precisamos correr!Como tornar mais estreita a relação de quem vive em grandes cidades com a natureza?Há muitas formas de estreitar essa relação. O cidadão pode procurar os parques e as reservas naturais em sua cidade, assim como as empresas podem e devem incentivar uma vida urbana mais saudável e sustentável (lugares para se exercitar, bicicletas, adoção de espaços públicos para plantio etc.). E, finalmente, o governo tem um papel fundamental de revitalizar todo o verde de seus espaços urbanos. E chamar a atenção para a importância deles para a saúde, o bem-estar, a drenagem das chuvas, a proliferação da fauna e da flora e tantos outros serviços fundamentais que a natureza nos fornece de graça.Qual o lugar do consumidor nessa equação? Você tem uma loja, a Muda. A loja ainda segue ativa?O consumidor tem um papel primordial nessa equação! Mudar nossa forma de consumir, abandonando o plástico descartável e privilegiando empresas que pensam de forma mais sustentável. A Muda, infelizmente, não existe mais. Não resistiu à pandemia.Qual a importância de organizações da sociedade civil, como a Fundação SOS Mata Atlântica, para a conservação, uso sustentável, preservação e recuperação de nossas matas?Fundamental! Se não fossem organizações como a Fundação SOS Mata Atlântica, da qual sou fã e conheço desde criança, estaríamos em piores lençóis. Infelizmente, somos um país com leis muito boas, mas sem nenhuma fiscalização para que elas aconteçam. Um país onde tem lei que “pega” e lei que “não pega”. Portanto, enquanto sociedade civil precisamos nos organizar para sermos o futuro que queremos.A Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica registraram aumento de desmatamento e queimadas nos últimos quatro anos, alguns deles recordes. Nossa sobrevivência no planeta vai se tornando cada vez mais complicada com a emergência climática. Como é possível fazer com que as pessoas percebam que cuidar desse equilíbrio, da natureza, é fundamental para a nossa existência?Essa é a grande questão! E é com essa questão que acordo e vou dormir todos os dias. Até porque o meu trabalho como defensor do meio ambiente é chamar a atenção do público. E nós, enquanto cidadãos, somos muito bons em apontar o dedo para achar culpados, mas muito ruins em tomarmos a atitude e sermos a mudança que queremos. Portanto, todos os dias tento alertar, chamar a atenção e ser exemplo. Sempre com muito cuidado, paciência, amor e visão além do alcance.O que cobrar de prefeitos, vereadores, deputados, senadores e presidente eleitos?É muito difícil falar em sustentabilidade num país gigantesco e tão cheio de natureza como o nosso, onde as prioridades parecem sempre estar tão longe do “não jogue lixo no chão”, “cuide dos animais”, “desligue a água e a luz para economizar” ou “não use plástico descartável”...só podemos fazer nossa parte e cobrar cada vez mais agendas ambientais dos nossos candidatos. Infelizmente, o meio ambiente ainda não é o forte dos programas que temos visto nos últimos anos, mas chamo a atenção mais uma vez para o nosso papel como cidadãos. Cada um tem que fazer a sua parte.Fotos de arquivo pessoal cedidas para a SOS Mata Atlântica.