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07 de January de 2025
A área florestal atingida por incêndios na Mata Atlântica entre janeiro e outubro de 2024 foi três vezes maior do que o desmatamento detectado no primeiro semestre do mesmo ano – 67 mil contra 21,4 mil hectares, respectivamente. No total, incluindo terrenos utilizados para agricultura, pastagens e outras atividades humanas, o fogo alcançou 993.117 hectares do bioma no período, um crescimento de 636% em relação ao ano anterior e o maior volume registrado desde 2019. O levantamento inédito faz parte de nota técnica (disponível aqui) elaborada pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) a partir de dados da Plataforma do Fogo do Mapbiomas.
Com características particulares em relação a outros biomas brasileiros, a Mata Atlântica apresenta uma situação fundiária consolidada e regularizada, a menor área de vegetação nativa preservada e a maior concentração de população, além de uma rede de infraestrutura desenvolvida. Ainda assim, os incêndios seguem como uma ameaça significativa, atingindo tanto áreas agrícolas quanto fragmentos de vegetação nativa. Entre 1985 e 2023, foram queimados 11,6 milhões de hectares, sendo 61% em áreas antrópicas e 39% em vegetação nativa, especialmente florestas, que não são adaptadas ao fogo e sofrem impactos severos em termos de biodiversidade.
Em 2024, além das grandes perdas econômicas e ambientais, as queimadas causaram danos à saúde pública devido à poluição do ar e agravaram a degradação da Mata Atlântica. O fogo atingiu principalmente áreas agrícolas no estado de São Paulo, como plantações de cana-de-açúcar e pastagens, porém também destruiu 67 mil hectares de florestas e causou danos significativos a campos naturais, acentuando o quadro de fragmentação do bioma – cujos remanescentes estão majoritariamente em pequenas áreas com menos de 50 hectares.
Diretora de ciência do IPAM, Ane Alencar considera os efeitos das queimadas devastadores. “O aumento do fogo reflete eventos climáticos extremos, como seca e calor recordes, associados ao uso humano do fogo, muitas vezes de maneira criminosa. São fatores que exigem maior articulação entre governos e sociedade para evitar novos desastres ambientais e sociais”, afirma.
O controle do fogo na Mata Atlântica, especialmente durante o período crítico que vai de agosto a outubro, depende de uma gestão coordenada em todos os níveis de governo e da sociedade. Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, ressalta que a recém aprovada Política Nacional de Manejo do Fogo (Lei 14.944/2024) é um marco importante para disciplinar e promover a articulação interinstitucional necessária ao enfrentamento dos incêndios florestais. “É fundamental, no entanto, garantir sua implementação efetiva, especialmente em anos como o de 2024, marcado por recordes de calor e seca. A ação local, rápida e integrada é decisiva para prevenir danos maiores ao bioma”, explica.
O documento chama atenção para a necessidade de fortalecer programas de prevenção e combate aos incêndios, retirar projetos de lei que enfraquecem a proteção da vegetação nativa, como o PL 364/2019, e endurecer penas para incêndios criminosos. Adicionalmente, recomenda a ampliação de instrumentos financeiros, como seguros para áreas de restauração, para garantir que iniciativas de longo prazo sejam protegidas contra eventos extremos.
A proteção e a recuperação da Mata Atlântica, apontada pela ONU (Organização das Nações Unidas) como uma da 10 Iniciativas de Referência da Década da Restauração de Ecossistemas, são fundamentais para a garantia de serviços ecossistêmicos – como água, alimentos, saúde e bem-estar nas cidades – em uma região que abriga 70% da população brasileira e responde por 80% da economia nacional.
Além de ameaçar a biodiversidade e a saúde da Mata Atlântica e de todas as pessoas que vivem no bioma, as queimadas comprometem os compromissos do Brasil no Acordo de Paris, as Metas de Biodiversidade e a liderança do país na Década da Restauração de Ecossistemas da ONU. “Proteger as florestas remanescentes e as áreas de restauração é central para preservarmos a resiliência climática e a biodiversidade da Mata Atlântica, além de garantir um futuro sustentável para as próximas gerações”, conclui Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica.