Infelizmente as queimadas têm impactado vários biomas brasileiros, entre eles a Mata Atlântica. Até hoje (02/10), analisando o Mapa da lei da Mata Atlântica, foram 17.133 focos neste ano em áreas não apenas de floresta, mas também em fazendas, beira de rodovias, entre outras regiões dentro do limite do bioma. No mesmo período do ano passado, haviam sido registrados 16.036 focos.
O número de 2020 é ligeiramente maior que o do ano anterior (6,8%). Porém, o que mais preocupa a SOS Mata Atlântica é o aumento de focos de incêndio nas florestas nativas e em várias Unidades de Conservação (UCs), como parques e reservas. Soma-se a isso o fato de a Mata Atlântica já ter perdido quase 90% da sua área original – restam somente 12,4% das áreas mais preservadas.
Ao olhar os focos que tocam as florestas nativas identificadas no Atlas da Mata Atlântica, tivemos 2.756 em 2019 e 3.018 em 2020 – crescimento de 9,5%.
Já os focos em Unidades de Conservação, foram 902 no ano passado e 938 neste ano – 4% de aumento.
Em 2019, os Parques Nacionais mais afetados foram o de Ilha Grande (PR), o do Monte Pascoal (BA) e o da Serra do Gandarela (MG).
Em 2020, os mais afetados até agora foram São Joaquim (SC) com 30 focos, o das Sempre Vivas (MG) com 22 focos, da Serra Geral - na divisa de Santa Catarina com Rio Grande do Sul -, com 12 focos e novamente na Serra do Gandarela (MG) que teve 11 focos, além de 9 focos no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, no Rio Turvo e do Tainhas, no Parque Nacional da Serra da Bocaina. No último dia 29 de setembro também ocorreu um incêndio no Parque Estadual de Ibitipoca.
“Todo ano estamos vendo isso acontecer e nos preocupa muito o aumento de queimadas nas Unidades de Conservação, como no Parque Nacional da Serra da Gandarela, que foi afetado no ano passado e neste ano, impactando nosso patrimônio e a biodiversidade da Mata Atlântica. Por isso, é importante que os governos federal, estaduais e municipais fortaleçam as equipes, os gestores e brigadistas para um plano integrado junto com as lideranças e comunidades locais para evitar mais danos futuros”, afirma Marcia Hirota, diretora executiva da SOS Mata Atlântica.
Chamou a atenção em julho o incêndio que afetou gravemente a Serra Fina – na Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo na divisa com Minas Gerais –, que teve área equivalente a quase 600 campos de futebol queimados.
Neste mês, foram vários focos de incêndio na região de Águas da Prata, São João da Boa Vista e Vargem Grande do Sul, também próxima à divisa com Minas Gerais, com a queima de cerca de 600 hectares e quase metade do Parque Estadual Águas da Prata atingido. Já na Serra de Petrópolis, no Rio de Janeiro, foram queimados 100 hectares nos últimos dias.
Para Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, “muitos voluntários e agentes locais têm
Brigada de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais do Matutu
trabalhado e sido eficientes para não deixar que o fogo aumente”. “Isso evitou mais tragédias. É muito importante os municípios estarem preparados e fortalecerem o trabalho dos bombeiros e brigadas de incêndio. Um bom exemplo é a Brigada de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais do Matutu”, reforça ele.
Essa foi a primeira brigada voluntária do Sudeste do Brasil, criada em 1993, e já formou mais de 500 novos brigadistas e treinou mais de 1.500 voluntários em várias localidades. A Brigada conta com imagens de drones e câmeras, além de sistema de radiocomunicação que interliga as diferentes brigadas através do projeto de bases comunitárias da Serra do Papagaio.
“Mas, em alguns casos mais graves, é fundamental apoio do estado e federação, com o envio de aeronaves e equipamentos que os municípios não têm acesso”, diz Mantovani.
Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas, concorda. “Com a perda do controle de incêndio no Pantanal e Amazônia, toda a atenção acaba indo para esses biomas. Mas as queimadas afetam todos os biomas do país e proteger os últimos remanescentes florestais da Mata Atlântica de incêndios é essencial para a conservação do bioma. Principalmente nas Unidades de Conservação e nos remanescentes florestais mais conservados, que são monitorados pela SOS Mata Atlântica e o INPE, esse aumento é preocupante e é preciso agir para evitar a todo custo as queimadas em áreas naturais”, afirma.
Proteção de áreas restauradas
Aceiro protegendo área restaurada de ser afetada por incêndio
Atenta a este cenário de destruição, a Fundação SOS Mata Atlântica tem tomado algumas medidas para evitar que o fogo também atinja áreas restauradas pela organização. Entre essas boas práticas estão os aceiros, enfatizados durante o período de seca, época do ano em que o risco de incêndio florestal é muito grande devido à ausência de umidade.
O aceiro compreende-se no corte de duas faixas de gramíneas invasoras ao redor das cercas que permeiam uma propriedade. Quanto mais próximo das rodovias e de comunidades, maior é o risco do incêndio florestal atingir a propriedade. Os aceiros, dependendo da intensidade do fogo, são capazes de neutralizá-lo ou, pelo menos, fazer com que a equipe de brigadistas ganhe um tempo extra para organizar as ações de controle do fogo.
Foto destaque: Brigada de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais do Matutu