Incêndios florestais escancaram a fragilidade de cidades paulistas e reforçam a urgência da restauração de ecossistemas

28 de August de 2024

Nos últimos dias, diversas cidades do interior de São Paulo têm tido áreas inteiras consumidas pelo fogo, que se alastra rapidamente devido à estiagem e aos ventos fortes. O ar, que já estava seco, se encheu de fumaça e fuligem. No céu de algumas cidades, como Ribeirão Preto, o sol ficou completamente vermelho. Aulas foram suspensas, estradas fechadas, mais de 60 pessoas foram hospitalizadas e duas, segundo a Defesa Civil, faleceram em decorrência das queimadas.

Os incêndios, classificados como “atípicos” pela Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, já são alvo de inquéritos federais, que irão investigar se foram criminosos, com alguma organização orquestrada por trás.

“Em São Paulo não é natural, em hipótese alguma, que, em poucos dias, você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios", afirmou a ministra Marina Silva no domingo (25/08).

Numa coletiva de imprensa realizada nesta segunda, 26, o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff, disse que 99,9% dos incêndios registrados ao longo do fim de semana foram causados por ação humana.

O estado todo, praticamente, está sob alerta máximo de risco para queimadas, como mostra o mapa divulgado pela Defesa Civil:

Agravantes

A seca já estava ameaçando o estado de São Paulo, com os níveis de água de mananciais abaixo do ideal e racionamento de água em alguns municípios. Essas condições agravaram o impacto do fogo e fizeram deste agosto o mês mais incendiário desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) começou este monitoramento.

Outro agravante é que os incêndios estão queimando o pouco de vegetação nativa que restava nos municípios do interior. Como destaca a nota pública da Fundação SOS Mata Atlântica, apenas 115 municípios paulistas contam com mais de 30% de cobertura florestal original. Alguns, como São José do Rio Preto, têm menos de 10%.

É o estado com o maior déficit de vegetação nativa em áreas de preservação permanente (APP), e que tem uma promessa de restaurar 1,5 milhões de hectares, mas que caminha a passos lentos.

Loan Henrique Barbosa, técnico de restauração florestal da Fundação, viu de perto o fogo avançar sobre áreas verdes. Ele conta que saiu para monitorar projetos de restauração em Botucatu na sexta-feira (23) de manhã. Quando retornou à tarde, todos os municípios pelos quais passou – além de Botucatu, Bauru, Lins, Guaiçara e Penápolis – apresentavam focos de incêndio.

Ele descreve o cenário como de guerra, com chamas acima de três metros de altura que, mesmo a rodovia Marechal Rondon sendo duplicada, conseguiam pular de uma pista para a outra.

“Aqui na região faltam chuvas e, com o avanço do fogo, tudo ia sendo queimado: Áreas de Preservação Permanente, matas ciliares, monoculturas de eucalipto e cana de açúcar e, o mais triste, vários fragmentos de mata. Hoje a situação é preocupante principalmente porque a fauna e seu habitat estão novamente sendo alterados”, relata o técnico.

Registro de área queimada feito por Loan Ramos.

Para Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, o que fica evidente é o total despreparo para uma situação climática extrema. “É uma questão de saúde pública, não apenas ambiental. Muito ruim para um país que vai sediar a Conferência do Clima ano que vem”, lembra.

O que fazer

Atear fogo é crime ambiental, sujeito a prisão ou multa. Se você presenciar uma ocorrência, acione a Defesa Civil, no número 199, ou o Corpo de Bombeiros, 193.

Compartilhar nas redes: