A ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu a restauração florestal da Mata Atlântica como uma das mais promissoras e relevantes do mundo ao incluí-la como uma das 10 Iniciativas de Referência da Década da Restauração de Ecossistemas. A indicação foi feita pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica – que reúne governos, empresas e ONGs – e a Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica, que conta com organizações do Brasil (onde se concentram cerca de 90% do bioma), da Argentina e do Paraguai (países que dividem os outros 10%). O anúncio das 10 primeiras Iniciativas de Referência da Restauração Mundial ocorreu nesta terça-feira, 13 de novembro, durante a 15ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU (COP15), realizada em Montreal, no Canadá.
Integrante tanto do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica quanto da Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica, a Fundação SOS Mata Atlântica tem a honra e o compromisso de contribuir como parceira oficial da Década da ONU da Restauração de Ecossistemas no Brasil com foco particular no bioma e seus tão diversos e ricos ameaçados ecossistemas – florestas, restingas, mangues, savanas, dunas e campos.
A nomeação da Mata Atlântica reconhece que a restauração é uma atividade que vai além do plantio de árvores, promovendo múltiplos benefícios à natureza e às pessoas, inclusive gerando trabalho e renda.
Aparecida (SP) - Foto: Filipe Lindo
“Esse reconhecimento da Mata Atlântica se deu pela enorme importância para o mundo da sua restauração, que, além de muito bem-sucedida, é um projeto muito promissor por mostrar que temos capacidade de alcançar os objetivos da Década da ONU da Restauração de Ecossistemas e contribuir para as ambiciosas e necessárias transformações em nosso planeta, especialmente no que diz respeito à emergência climática e crescente perda de biodiversidade”, afirma Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica. “A conquista é uma grande oportunidade de alavancarmos parcerias, recursos e investimentos para dar escala à restauração da Mata Atlântica”, completa.
A restauração da floresta é uma causa prioritária para a Fundação, já que a Mata Atlântica é o bioma mais devastado do país e continua sob ameaça, com índices de desmatamento aumentando nos últimos anos. A SOS Mata Atlântica está entre as organizações que mais plantou árvores nativas no Brasil – foram cerca de 42 milhões de árvores nativas. É a primeira entre as organizações da sociedade civil e a segunda instituição com maior área plantada e cadastrada no banco do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. Combinando todas as iniciativas de restauração, atingiu-se uma área de 23 mil hectares – o equivalente ao território de Recife –, distribuídos em 550 municípios.
“A Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas tem papel fundamental na transformação que precisamos e desejamos fazer no mundo”, ressalta Guedes Pinto.
As iniciativas de restauração da SOS Mata Atlântica estão distribuídas por nove estados, sendo São Paulo, Paraná e Minas Gerais os mais beneficiados. Em escala regional, o município que recebeu o plantio do maior número de árvores nativas é Itu, no interior de São Paulo, com mais de 1,5 milhão de mudas, distribuídas em 47 projetos. Na cidade também se encontra o Centro de Experimentos Florestais da Fundação, onde são realizadas pesquisas sobre metodologias de restauração e sobre a relação da biodiversidade com as novas florestas. Quando foi criado, em 2007, o local tinha 49 hectares de floresta. Hoje, ele conta com 386 hectares restaurados. Ali também se encontra um viveiro com capacidade de produzir até 750 mil mudas ao ano.
Socorro (SP) - Foto: Tuane Fernandes
A área, que já teve diversas vocações, como fazenda para produção de café e criação de gado, é hoje um exemplo claro dos benefícios que a restauração pode trazer para o seu entorno e para toda sociedade, como o retorno de nascentes e aumento do nível de água superficial e subterrânea. Estudos também comprovaram o aumento e retorno de espécies - Um estudo realizado em parceria com os pesquisadores Marcos Melo e Marco Silva, da Universidade Federal de São Carlos, identificou 81 espécies de aves no local em 2007. Dez anos depois, o número mais do que duplicou, chegando a 208, incluindo duas espécies ameaçadas de extinção: a perdiz e a curica.
“Apesar de ser uma das florestas mais biodiversas do mundo, a Mata Atlântica passou por intensos períodos de exploração econômica, que acabaram por torná-la também uma das mais degradadas. Essas florestas seguem em rota de alta ameaça, com o aumento do isolamento de áreas e degradação dos fragmentos mais importantes. Diante deste cenário, interromper graves ameaças, como o desmatamento, é imperativo, mas não suficiente. Se faz necessário a implementação de soluções baseadas na natureza, como a restauração florestal, para conservação e recuperação do bioma”, afirma Guedes Pinto.
Globalmente, o bioma também tem importante papel. Ele ressalta que um estudo publicado na revista Nature, que considerou os benefícios para a conservação da biodiversidade e a mitigação das mudanças climáticas, apontou a Mata Atlântica como um dos ecossistemas com maior prioridade para a restauração no mundo. O estudo afirma que o bioma faz parte de um grupo de ecossistemas em que a restauração de 15% de sua área evitaria 60% das extinções de espécies previstas, ao mesmo tempo em que sequestraria o equivalente a 30% do CO2 lançado na atmosfera desde o início da Revolução Industrial.
Nomeação
Para a nomeação como Referência da Restauração Mundial, a ONU criou um comitê especial composto por cientistas e pesquisadores da FAO e da UICN (União Internacional para Conservação da Natureza). A decisão final foi confirmada pelas agências líderes da Década da ONU, PNUMA e FAO. Foram considerados mais de 20 critérios de avaliação, tais como: envolvimento de comunidades locais nas tomadas de decisão, formação de coalizões, contribuição para os acordos internacionais de redução de emissões, potencial de crescimento e replicabilidade, entre outros.
Em todo o mundo foram 156 propostas concorrendo ao título de Referência da Restauração Mundial, que, juntas representam mais de 96 milhões de hectares restaurados e com potencial de geração de mais de 1,5 milhão de postos de trabalho verdes.
Além da iniciativa da Mata Atlântica, também foram nomeadas como Referência da Restauração Mundial iniciativas na África, Oceania, América Central, Oriente Médio e Ásia. A lista completa está disponível aqui!
A Década da ONU da Restauração de Ecossistemas tem como objetivo interromper e reverter a degradação de ecossistemas nos continentes e oceanos de todo o planeta, contribuindo para solucionar os grandes desafios que a humanidade tem pela frente – como a redução da pobreza, o combate às mudanças climáticas e a prevenção da extinção em massa de espécies – a partir da ação conjunta entre governos, empresas, ONGs e entidades de pesquisa.
Socorro (SP) - Foto: Tuane Fernandes