Artigo de Marcia Hirota* e Mario Mantovani*, originalmente publicado na Gazeta do Povo - A Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgaram no último dia 27 de maio, Dia Nacional da Mata Atlântica, os dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. O estudo monitora o bioma mais ameaçado do país há 28 anos. Como bem noticiou a Gazeta do Povo, em manchete sob o título “Mata Atlântica perdeu meia Curitiba em 2013”, foram suprimidos um total 23,9 mil hectares de florestas, quase 24 mil campos de futebol.
Em quarto lugar no ranking dos estados que mais desmataram a Mata Atlântica, o Paraná teve uma perda de 2,1 mil hectares de vegetação, aumento de 6% em relação aos 2 mil hectares suprimidos no período anterior (2011-2012), que por sua vez já representava também um aumento de 50% em relação aos índices de 2010-2011. Estamos, portanto, diante da retomada do desmatamento no Paraná, o que é preocupante. Para Tarcísio Pinto, presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), em resposta publicada na reportagem citada, os dados são contestáveis, pois o levantamento não leva em consideração a diferença entre desmates legais e ilegais. Sem apresentar evidências, ele afirma acreditar que o desmatamento irregular chegue próximo aos 20% dos 2,1 mil hectares indicados no estudo.
O que fica da declaração do IAP, órgão responsável por autorizar cortes e fiscalizar ações irregulares no estado, é a tentativa de relativizar a constatação de que o desmatamento no Paraná continua a avançar sobre as áreas de Mata Atlântica. Importante ainda ressaltar que o desflorestamento foi registrado no Centro-Sul do estado, região de ocorrência das tão ameaçadas florestas de araucária.
A Mata Atlântica é o bioma predominante no Paraná, presente em 99% de sua área. Hoje, restam apenas 11,8% da vegetação original – um pouco mais de 2,3 milhões de hectares. Nos 28 anos de monitoramento do Atlas, registrou-se no Paraná o desmatamento de mais de 453 mil hectares de florestas nativas, área equivalente a 10 cidades de Curitiba.
O Paraná já foi por duas vezes campeão de desmatamento da Mata Atlântica – nos levantamentos de 1985-1990 e 1995-2000, e nesse último o estado levou também o recorde da maior extensão contínua desflorestada já registrada, uma área de 16 mil hectares nos municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Nova Laranjeiras.
Ressaltamos que o objetivo do Atlas é o de diagnosticar e manter dados permanentemente atualizados sobre a situação da Mata Atlântica, ato de prestação de contas para a sociedade e de colaboração para com os governos. É do governo do estado o papel de fiscalizar e proteger os fragmentos que restam do bioma, remanescentes florestais responsáveis por serviços ambientais vitais, já que sua destruição reflete claramente na baixa qualidade de vida e bem-estar da população, no ar poluído das cidades e no comprometimento da produção e qualidade da água – ou até mesmo na falta dela.
Diante disso, a retomada do desmatamento indicada pelo Atlas requer, ao menos, uma avaliação criteriosa e respostas precisas do poder público, sobretudo da instituição responsável por proteger, preservar, conservar, controlar e recuperar o patrimônio ambiental do estado do Paraná.
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Marcia Hirota é diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica e coordenadora do Atlas dos Remanescentes Florestais; Mario Mantovani é diretor de Políticas Públicas da Fundação.