Apoie nossas
causas
Se mantenha informado de nossas ações
22 de February de 2024
Após 1.396 km de expedição por áreas de restauração florestal em nove municípios paulistas e mineiros, a paisagem da região de Itu (SP), ponto final do percurso, representa a síntese dos desafios do mais rico e populoso bioma brasileiro para repor a vegetação nativa perdida. O carro cruza grandes extensões de plantações de cana, pastagens com gado, sítios e áreas periurbanas que se misturam entre as cidades. No volante, o supervisor de campo da SOS Mata Atlântica, Roberto Cândido, o Betão, olha para os lados e diz: “Vejam o resultado após longa história de impactos que agora precisam ser resolvidos na emergência da mudança climática”.
Aqui e acolá, nacos isolados de floresta dão a medida do que originalmente existia – e do que é possível recuperar. Na Rodovia Marechal Rondon (SP-300), homenagem ao engenheiro militar e sertanista que instalou linhas telegráficas, fez contato com indígenas e desbravou a Amazônia no início do século XX, o retrato expõe cicatrizes. São resultado do processo de interiorização, iniciado muito tempo antes na rota dos bandeirantes em território paulista. Ao longo da estrada, efeitos dos ciclos econômicos e da expansão das cidades estão por toda parte. Mas há sinais de que, para a natureza, não é uma guerra perdida.
No Km 118, a placa no portal de entrada indica: Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica – Heineken Brasil. Com 526 hectares, no município de Itu, o local funciona como núcleo de referência e inteligência no trabalho de restaurar o bioma, considerando toda a cadeia produtiva – da coleta de sementes e viveiro de mudas até o diagnóstico das áreas, a articulação para envolvimento das propriedades rurais, planejamento e execução do plantio e monitoramento das novas florestas. “É um polo propagador de boas práticas e engajamento”, observa Betão, na chegada ao centro, onde a estrutura inclui instalações para capacitação profissional e educação ambiental com crianças e jovens de escolas da região.
Estrutura do Centro de Experimentos Florestais em Itu. Foto: Alexandre Macedo/ SOSMA
Evento Férias na Mata Atlântica, no Centro de Experimentos Florestais da SOS Mata Atlântica em Itu.
Foto: Léo Barrilari/SOSMA
Restauração mobiliza educação ambiental em Itu. Foto: Léo Barrilari/SOSMA
Referência para replicar a restauração
Com 414 anos de história que impactaram acentuadamente os recursos naturais, o município de Itu se localiza em região de transição ecológica entre Mata Atlântica e Cerrado, com o Rio Tietê nas proximidades, sob o risco da degradação. Em condições ambientais hostis, restaurar o que foi destruído parecia improvável, mais de uma década atrás.
“Mostramos ser possível criar uma floresta funcional, com conservação do solo e proteção de nascentes”, ressalta Betão.
Cedida pela antiga Brasil Kirin (hoje Heineken), a área do Centro de Experimentos abriga os mananciais que abastecem de água a unidade da indústria de bebidas no entorno, a 8 Km de distância. Na crise hídrica de 2014-2015 que assolou a Região Sudeste, o plantio de árvores pela SOS Mata Atlântica, realizado neste local desde 2007, regenerou o ciclo hidrológico, evitou que a produção da fábrica fosse paralisada e ajudou no abastecimento de moradores. Serviu, ainda, como aprendizado para novas ações no bioma.
Até o momento, foram plantadas 720 mil mudas de diversas espécies nativas na propriedade, abrangendo 380 hectares em restauração. Com novos visitantes: câmeras instaladas na mata já registraram a presença de veado, jacu, paca e onça-parda – essa, inclusive, uma família toda, com mãe e filhotes. É uma vitrine de como a restauração do bioma é possível e pode gerar bons resultados à qualidade de vida e à economia.
Em toda a Mata Atlântica, desde o ano 2000, a ONG apoiou o plantio de 43,6 milhões mudas em várias iniciativas, em cerca de 24,7 mil hectares. No total, foram aproximadamente 1,7 mil proprietários beneficiados. No rastro dos números, está o trabalho que inclui poder de articulação com parceiros de diferentes setores, profundo conhecimento sobre o bioma e qualificação técnica na restauração de ecossistemas, com ganho de escala e resultados que fazem a diferença diante dos atuais desafios socioambientais.
“É uma história de aprendizados, erros e acertos que permitem um cenário atual de maturidade, confiança e segurança para os investimentos”, enfatiza Rafael Bitante Fernandes, gerente de restauração florestal da SOS Mata Atlântica.
No Centro de Experimentos em Itu, onde hoje também funciona a sede da ONG, as equipes têm acesso a novas tecnologias, como um sistema de gestão com dados geoespaciais das áreas, a existência de fragmentos de mata, os diferentes estágios de recuperação e outras informações que possibilitam controlar remotamente o trabalho e tomar decisões. “O sistema permite lidar com parceiros em ações de escala muito reduzida, seja filantrópica ou compensatória, de forma a agrupar áreas pequenas de plantios de mudas para fazer grandes”, explica Rafael.
A gestão se torna mais ágil. É possível gerar relatórios referentes aos vários parceiros de forma rápida, com banco de dados da história dos projetos, fotos, vídeos e toda a documentação envolvida, datas, técnicas aplicadas e controle financeiro, por exemplo. “É uma grande memória dos projetos, que contribui para o aprimoramento das iniciativas”, afirma o gerente. Em paralelo, acrescenta, “podemos entender em que época conseguimos mais parcerias e contratos para restaurar, de quem adquirimos mais mudas e onde plantamos mais”. Como resultado, são gerados indicadores estratégicos para melhorar e aumentar as ações de plantar árvores na Mata Atlântica.