O primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) indica que o clima no Brasil nas próximas décadas deverá ser mais quente – com aumento gradativo e variável da temperatura média em todas as regiões do país entre 1 ºC e 6 ºC até 2100, em comparação à registrada no fim do século 20.
No mesmo período, também deverá diminuir significativamente a ocorrência de chuvas em grande parte das regiões central, Norte e Nordeste do país. Nas regiões Sul e Sudeste, por outro lado, haverá um aumento do número de precipitações.
O sumário executivo do relatório foi divulgado na segunda-feira (09/08), durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima). O documento presenta projeções regionalizadas das mudanças climáticas que deverão ocorrer nos seis diferentes biomas do Brasil até 2100, e mostra quais são seus impactos estimados e as possíveis formas de mitigá-los.
As projeções foram feitas com base em revisões de estudos realizados entre 2007 e início de 2013 por 345 pesquisadores de diversas áreas, integrantes do PBMC, e em resultados científicos de modelagem climática global e regional.
Mata Atlântica
Para a Mata Atlântica, as projeções apontam dois regimes distintos de mudanças climáticas. Na porção Nordeste deve ocorrer um aumento relativamente baixo na temperatura – entre 0,5 ºC e 1 ºC – e decréscimo nos níveis de precipitação (chuva) em torno de 10% até 2040.
Entre 2041 e 2070, o aquecimento do clima da região deverá ser de 2 ºC a 3 ºC, com diminuição pluviométrica entre 20% e 25%. Já para o final do século – entre 2071 e 2100 –, estimam-se condições de aquecimento intenso – com aumento de 3 ºC a 4 ºC na temperatura – e diminuição de 30% a 35% na ocorrência de chuvas.
Nas porções Sul e Sudeste as projeções indicam aumento relativamente baixo de temperatura entre 0,5 ºC e 1 ºC até 2040, com aumento de 5% a 10% no número de chuva. Entre 2041 e 2070 deverão ser mantidas as tendências de aumento gradual de 1,5 ºC a 2 ºC na temperatura e de 15% a 20% de chuvas.
Tais tendências devem se acentuar ainda mais no final do século, quando o clima deverá ficar entre 2,5 ºC e 3 ºC mais quente e entre 25% e 30% mais chuvoso.
“O que se observa, de forma geral, é que nas regiões Norte e Nordeste do Brasil a tendência é de um aumento de temperatura e de diminuição das chuvas ao longo do século”, resumiu Tércio Ambrizzi, um dos autores coordenadores do sumário executivo do grupo de trabalho sobre a base científica das mudanças climáticas.
“Já nas regiões mais ao Sul essa tendência se inverte: há uma tendência tanto de aumento da temperatura – ainda que não intenso – e de precipitação”, comparou.
Bom para surfar, mas ruim para as pessoas e a pesca
Eduardo Assad, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), falou no evento também sobre o alto risco para as comunidades costeiras e manguezais. Segundo ele, haverá impacto para a população, além de aumento da frequência de processos erosivos na costa e deslizamentos de falésias.
“Em menos de quatro anos já tivemos desastres muito fortes que aconteceram em razão desse desequilíbrio. Nosso papel é alertar para essas coisas”, afirmou ele, lembrando das grandes chuvas e deslizamentos em Santa Catarina, Ilha Grande e Petrópolis.
“A maior parte da população brasileira – principalmente a que habita as regiões costeiras do país – está vulnerável aos impactos das mudanças climáticas. Resolver isso não será algo muito fácil”, disse. Segundo ele, haverá também aumento das tempestades. “As mudanças serão boas para o surf, mas haverá ressacas cada vez mais fortes no litoral”, disse.
A acidificação da água do mar também trará impactos muito negativos para a pesca. "Temos quase 8 mil km de costa e podemos perder 6% do potencial máximo de captura. Não sei quanto é isso em tonelada de peixe, mas é um mundo”, ressaltou.
Ainda de acordo com o pesquisador, os impactos das mudanças climáticas afetarão principalmente as populações menos assistidas e com menor renda. “Os eventos extremos estão aumentando, os dias mais quentes ou mais frios vão atingir as populações menos assistidas, que não têm como ligar uma lareira ou ar condicionado. Por isso, precisamos tomar decisões rápidas”, ressaltou.
Com informações da Agência Fapesp
Foto: Marcelo Ferrelli/Inovafoto