A Fundação SOS Mata Atlântica recebeu com choque e muito pesar a notícia do falecimento de Gustavo Fonseca, biólogo e diretor de Programas do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), aos 65 anos, no dia 30 de agosto. Fonseca foi professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) por 21 anos e um dos fundadores do Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da instituição. Referência global na área de conservação da biodiversidade, também foi vice-presidente executivo da Conservação Internacional.Grande apoiador da causa ambiental, Fonseca participou do primeiro Workshop Mata Atlântica promovido pela Fundação em 1990 e contribuiu, juntamente com outros especialistas, na definição do conceito do bioma Mata Atlântica. A partir de então, apoiou e colaborou muito ao conhecimento e na avaliação do Atlas da Mata Atlântica, desenvolvido em parceria com o INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais). Recentemente ele escreveu o prefácio do livro 30 anos de Conservação do Hotspot de Biodiversidade da Mata Atlântica: desafios, avanços e um olhar para o futuro, organizado pelo biólogo Luiz Paulo Pinto e a ambientalista Marcia Hirota. Ao longo dos anos sempre prestigiou e palestrou em eventos da ONG, como o que celebrou os 10 anos do programa de incentivo às RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural).“Estamos muito tristes, acabamos de perder um grande amigo e parceiro, expoente máximo da conservação da biodiversidade mundial e da Mata Atlântica. Conheço o Gustavo Fonseca desde 1991, ele sempre foi uma grande referência para nós na universidade e nas organizações, um importante cientista, profissional e colaborador. Deixa um imenso legado ao conhecimento e à conservação da natureza”, diz Marcia Hirota, presidente da Fundação SOS Mata Atlântica. Ela reforça o papel de Fonsecana criação da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica – parceria entre a SOS Mata Atlântica e a Conservação Internacional que durou de 1999 e 2014. ”Agradeço muito por ter tido o privilégio de poder contar com a mentoria, apoio e enorme contribuição desde as primeiras iniciativas institucionais. É uma perda inestimável para todos nós”, diz ela.Em participação no webinárioO Futuro da Mata Atlântica, realizado em maio de 2021 pela Folha de S.Paulo, ele estava otimista em relação ao potencial de recuperação do bioma. “Vamos transformar esse ‘hotspot’ [ponto crítico, na tradução do inglês] em um ‘hopespot’ [ponto de esperança]. Nós temos condições de fazer isso e de liderar a agenda da restauração no mundo. A Mata Atlântica pode trazer essa esperança e esse protagonismo novamente”, afirmou ele durante o evento. “Gustavo Fonseca foi um cientista e ambientalista visionário. Juntos, na década de 1990, quando várias empresas formavam joint-ventures, percebemos que duas organizações ambientalistas com uma bagagem considerável de ações poderiam fazer muita diferença se atuassem juntas, de forma sinérgica para a conservação. Assim, reunimos a SOS Mata Atlântica e a Conservação Internacional para criar a Aliança para a Conservação da Mata Atlântica e implementar alternativas inovadoras neste bioma. O legado que deixamos já demonstra que valeu a pena e a trajetória dele na história da conservação foi grandiosa, projetando o Brasil, fortalecendo a agenda ambiental e promovendo muito diálogo com diversos níveis de governo, setor privado e comunidade científica internacional”, ressalta Roberto Klabin, ex-presidente e atual vice-presidente da SOS Mata Atlântica. Monica Fonseca, bióloga com mestrado em Ecologia e Conservação pela UFMG, reforça a contribuição de Fonseca para a formação de toda uma geração de profissionais da biologia, inclusive a sua. “Ele foi um grande amigo e mestre. Sua paixão pela conservação fez com que extrapolasse rapidamente as fronteiras da Academia e levasse inovação para as grandes organizações não governamentais, sempre tendo junto consigo os seus alunos. Depois, vieram voos mais alto e colaborou para a definição de grandes estratégias de conservação junto ao maior fundo de proteção da biodiversidade, o GEF. De certa forma, hoje ficamos órfãos e nós, os amigos, perdemos uma grande companhia, uma pessoa incrivelmente inteligente, sagaz e divertida”, afirmaela..Em texto em homenagem a Fonseca, o GEF destaca um trecho de entrevista em que ele reforça a importância de unir ciência e políticas públicas. “Eu tive a sorte de construir uma carreira na intersecção entre ciência, política e ação, e acredito fortemente no valor das parcerias entre essas áreas. Não se pode ter uma ação eficaz sem uma política informada e não pode ter uma política informada sem uma ciência sólida. É simples assim." A Fundação SOS Mata Atlântica concorda imensamente com esta visão. À Glaucia, seus filhos, familiares e amigos, nossos mais profundos e sinceros sentimentos.