O ambientalista e engenheiro agrônomo Alceo Magnanini, de 96 anos, faleceu nessa segunda-feira (11/07), vítima de Covid-19. Grande referência no ambientalismo e reconhecido por ser um grande defensor da causa ambiental embasada na ciência, ele teve papel fundamental na criação do Código Florestal de 1965.
Ele também participou do workshop Mata Atlântica em 1990 e contribuiu para a definição do conceito e das bases científicas para subsidiar a construção da Lei da Mata Atlântica.
Ao homenagear o agrônomo, que também era especialista em Ecologia e Conservação da Natureza, a família reforçou sua busca incansável pela “proteção dos nossos ricos biomas e por toda a natureza do Brasil”. O sepultamento ocorreu em Petrópolis (RJ), numa região produtora de orgânicos.
Magnanini fez parte por sete anos do Conselho Florestal Federal e integrou o grupo de trabalho que elaborou o a lei florestal aprovada em 1965. “Para você ver o cuidado com que foi feito, basta um só falar discordo, apaga tudo e vamos começar de novo. O nosso foco era fazer um Código técnico e que trouxesse benefícios a todos, indústria, comércio, pequeno agricultor, grande agricultor”, conta Magnanini no filme
A Lei da Água – Novo Código Florestal.
Em 2011, ele falou em seminário sobre a diferença entre as duas leis: “Estamos trocando um código feito através de estudo científico e pesquisas, por um código puramente legislativo. Não há indicação de cientistas, de referência ou sequer de autores que estão por trás das mudanças do novo texto (…) não é Código Florestal coisa nenhuma, é um código agrícola. Nós estamos em um retrocesso absoluto, estamos na contramão ambiental e em marcha ré”, disse à época.
A Fundação SOS Mata Atlântica lamenta profundamente a perda de Magnanini, especialmente em momento em que há uma grande ofensiva e ameaças no Congresso para piorar e afrouxar ainda mais a legislação florestal. “Ele seguirá nos inspirando no trabalho de influenciar boas políticas públicas que beneficiem toda a população, e não somente poucos grupos”, afirma Marcia Hirota, presidente da ONG. “Magnanini foi um parceiro na defesa da Mata Atlântica, além de grande defensor das florestas naturais e da biodiversidade”, ressaltou ela.
O ambientalista atuou no IBGE, no Ministério da Agricultura, no Centro de Pesquisas Florestais e Conservação da Natureza do Estado da Guanabara, no Jardim Botânico, INEA/RJ, entre outros, com grande destaque no âmbito das políticas públicas ambientais. Em 2011 ele também concedeu entrevista à memória do IBGE, em que fala sobre temas como a biogeografia e também sobre a legislação florestal.
Roberta del Giudice, Secretária Executiva do Observatório do Código Florestal, ressaltou a vanguarda alcançada pelo grupo de trabalho do Código Florestal de 1965 no âmbito da proteção florestal. “A Lei de 65 ampliou o conceito de florestas como bens de interesse público, fortaleceu a função social da propriedade e estabeleceu regras para as áreas de preservação, sendo possível a fiscalização no nível do imóvel”.