Paixão por restaurar

22 de February de 2024

[Alimentação vegana]

O empresário que aposta nos negócios com a vida saudável embarca na saga de recuperar floresta onde havia gado e mobilizar propósitos que fortalecem a marca e dão sentido a novos hábitos


Por Sérgio Adeodato, de Piranguçu


Fotos: Juan Pablo Ribeiro


O empresário paulistano Leandro Farkuh, ligado ao mundo da alimentação saudável e dos esportes de aventura, quis celebrar os 20 anos do negócio de uma maneira diferente, que fizesse sentido na sua história de vida, com impacto positivo para a natureza. A ideia foi mobilizar marcas parceiras, também conectadas a propósitos ecológicos, e adquirir uma propriedade rural que reunisse – além da beleza cênica – uma condição básica indispensável: ter sido degradada pela pecuária. A missão: recuperar a vida.


Assim o dono da Bio2, fabricante de barras de cereais e proteína, snacks e suplementos veganos em São Paulo, chegou a um refúgio de 77 hectares, nas montanhas da Serra da Mantiqueira, em Piranguçu (MG). E lá iniciou a complexa jornada de reconstruir a floresta no lugar do pasto, trazendo de volta água, biodiversidade e convívio com a natureza. “É um exemplo de que é possível a transformação para um modelo de vida mais sustentável que defendemos no veganismo”, afirma Leandro.


A inspiração surgiu após o plano inicial de doar recursos para plantio de 15 mil mudas em parceria com o programa Florestas do Futuro, da SOS Mata Atlântica, implementado com apoio de doadores em propriedades que precisam se adequar à legislação ambiental. “Como desejávamos conhecer o local, participar diretamente do processo e acompanhar o crescimento das árvores, veio a sugestão para que tivéssemos a própria fazenda. A provocação virou aventura para a gente”, conta Leandro, criador da Floresta Bio2, ao lado de empresas como a Mitsubishi Motors, a Can-Am e a Biowash, entre outros patrocinadores.


Neste caso, o objetivo foi muito além da regularização ambiental da Reserva Legal (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APPs) para proteção da água. O plano foi cobrir de floresta a propriedade praticamente inteira. Desde 2019, foram plantadas 79 mil mudas, com investimento R$ 1,5 milhão no projeto de restauração da vegetação nativa que chegou em janeiro à quarta e última fase, com apoio técnico e monitoramento da SOS Mata Atlântica.


Primeiro veio a água


No percurso pela BR 459 para Itajubá, Sul de Minas Gerais, e de lá pela BR 383 até Piranguçu, o cenário montanhoso de antigas pastagens e nacos de mata nos vales, na Serra da Mantiqueira, dá sinais sobre o que se vê no ponto final da viagem. Na Floresta Bio2, o escritório de recepção dos visitantes, onde funcionava o curral e o abatedouro da antiga fazenda, atualmente é local de encontro para o nascimento de novas ideias. Na parede, o mapa indica as áreas de reflorestamento e demais atrativos: o spa natural, a caverna da onça, a árvore sagrada, a geodésica e o camping. Ao lado, a placa com o símbolo de uma pá e uma muda, avisa: “Homens trabalhando”.


Na paisagem, morros exibem mudas em crescimento, como uma vitrine do trabalho lá conduzido, baseado em três pilares: meio ambiente, nutrição saudável e atividades físicas. No caminho até a casa, chalés, galpões de equipamentos e outras estruturas construídas no local, a grota onde o gado bebia água é agora uma nascente cristalina e regenerada, sob a sombra das árvores plantadas na primeira etapa da restauração, incluindo um pomar com 40 espécies frutíferas. Entre as pedras e piscinas do riacho, o barulho da água corrente permite um contato energético de bem-estar. “A regeneração da natureza inspira mudanças de atitudes e sentimentos”, ressalta Leandro. “Para cuidar bem do solo, das plantas e das outras pessoas, é preciso primeiro cuidar de si próprio”.


Próximo à área de camping, vestuário e cozinha, grandes rochas que beiram a mata servem para atividades de escalada, além da pista de mountain bike e outros esportes de aventura. Mais adiante, uma estrutura geodésica inspira meditação, ioga e outras práticas com o visual das estrelas, ao lado de um mirante que dá vista para o Laboratório Nacional de Astrofísica, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), localizado no alto de um morro vizinho, em região reconhecida pela qualidade do céu para observações astronômicas.



Restauração articula empresas de esportes de aventura





Relevo atrai prática de escalada




Geodésica inspira conexões com a natureza