Retrospectiva 2021: os fatos mais marcantes para a Mata Atlântica e a Fundação

21 de December de 2021

O ano de 2021 foi marcado por um cenário de insegurança política com relação à proteção do meio ambiente e da Mata Atlântica no Brasil e pela necessidade de unir esforços da sociedade civil em prol do nosso patrimônio natural. Muitas atividades ainda se mantiveram em ambientes virtuais ou de forma menos intensa em razão da pandemia de covid-19. O interesse popular sobre as mudanças climáticas se ampliou, influenciado pela realização do maior evento mundial sobre o assunto. Depois de plantar cerca de 42 milhões de mudas de árvores nativas, a SOS Mata Atlântica celebrou seus 35 anos de história. Você é nosso convidado a relembrar estes e outros fatos que marcaram a SOS Mata Atlântica e a conservação do bioma em 2021. E, também, a conhecer nossas principais expectativas para o próximo ano.  

Atlas da Mata Atlântica

Às vésperas do Dia Nacional da Mata Atlântica, 27 de maio, foi lançado o relatório que aponta a perda de 13.053 hectares de florestas nativas do bioma, o equivalente a 130 quilômetros quadrados. Os dados revelados pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram um aumento de mais de 100% no desmatamento entre 2019 e 2020, em 10 dos 17 estados abrangidos pelo bioma. Além de zerar o desmatamento, o Atlas da Mata Atlântica indica a necessidade de enxergar a restauração do bioma como uma prioridade na agenda ambiental e climática do país.  

35 anos de história

A SOS Mata Atlântica alcançou em 2021 seus 35 anos de criação, com importantes resultados e com o desejo permanente de seguir em busca de novas e maiores conquistas para a proteção do meio ambiente e da Mata Atlântica. Durante todos esses anos, a participação popular foi significativa e essencial, por isso as comemorações deveriam envolver todos aqueles que sempre estiveram unidos a nós pela causa. Escolhemos comemorar online para garantir a segurança e a saúde de todos. No já tradicional “Viva a Mata fizemos a nossa cerimônia de celebração, com a participação do fotógrafo Sebastião Salgado, da atriz Regina Casé, do plantador de árvores Hélio da Silva, entre outras personalidades. Na ocasião, divulgamos um vídeo comemorativo com uma linda música do DJ Alok, um presente do Instituto Alok. Também lançamos no evento o “Novo Chamado pela Mata Atlântica”, nosso manifesto para fazer “reviver as nascentes, reduzir as emissões, recuperar as florestas, revitalizar os parques e resguardar a biodiversidade”. Queremos que ele nos motive a seguirmos juntos para reconstruir nossas florestas.  

Operação Mata Atlântica em Pé

A quarta edição da Operação Mata Atlântica em Pé fiscalizou 17 estados brasileiros, identificando 8.189 hectares de vegetação nativa suprimida, um aumento de 30% em relação à área de 2020. A SOS Mata Atlântica é parceira do Ministério Público do Estado do Paraná – responsável pela Operação que atingiu todos os estados do bioma. Em setembro de 2021, o órgão aplicou um montante de multas 70% superior neste ano (o valor chegou a R$ 55.531.184,19). A fiscalização é uma das formas de coibir ilegalidades e reafirmar a necessidade de conservação do patrimônio nacional. Desde a primeira edição da operação foram utilizadas informações do Atlas da Mata Atlântica e imagens de satélite. A partir de 2020 passou a ser utilizada também a plataforma MapBiomas Alerta. A partir do Atlas e do MapBiomas, foram definidos diversos polígonos de desmatamento fiscalizados durante a operação.  

Semana da Árvore

No mês de setembro, a SOS Mata Atlântica comemorou oficialmente seus 35 anos de existência. Na véspera do Dia do Árvore, com convidados como Marcelo Adnet, Rael, Ivete Sangalo, Estevão Ciavatta e pocket show da Banda Eva, celebramos juntos a nossa história e as mais de 42 milhões de mudas de árvores nativas plantadas em uma live muito animada, com apoio do Juçaí e belos vídeos da Pindorama Filmes. Aproveitamos o momento de confraternização para contar sobre as espécies de árvores mais queridas do bioma, dividir conhecimento sobre a Mata Atlântica e renovar os votos por um mundo mais sustentável.  

Água Limpa

A Mata Atlântica abriga sete das nove maiores bacias hidrográficas do continente sul-americano, o que torna a preservação do bioma uma necessidade para o fornecimento de água e de outros serviços ecossistêmicos. Por essa razão, a SOS Mata Atlântica realiza anualmente, graças ao apoio da Ypê, o monitoramento da qualidade de água no bioma, com a participação de mais de 3 mil voluntários e de muitos especialistas. Em março de 2021, nas comemorações pelo Dia da Água, foi lançada a versão mais recente do relatório, que avaliou amostras de 130 pontos de monitoramento, distribuídos em 77 trechos de rios e corpos d’água brasileiros, em 64 municípios, nos 17 estados do bioma. Apesar de uma tendência à melhoria na qualidade ambiental dos rios e córregos, o estudo alerta que a perenidade desses resultados depende de investimentos contínuos em saneamento ambiental e proteção de matas ativas e áreas verdes.  

Observando o Tietê

O Tietê é o maior rio de São Paulo, atravessa o estado paulista e possui mais de 1.100 km de extensão, mas a sua importância não se restringe ao estado. Uma das ações de destaque da SOS Mata Atlântica é justamente o monitoramento da qualidade da água no Tietê. Esta é a atividade que conta com o apoio fundamental de voluntários na instituição, que contribuem com as coletas e avaliações em 53 pontos de coleta do curso do Tietê. Nas amostras de setembro de 2020 a agosto de 2021 observou-se uma tendência positiva de melhora na qualidade da água na bacia do Rio Tietê. Apesar disso, mais de um quarto dos pontos apresentou condição ruim à péssima, com uma taxa de 7,2% considerados de boa qualidade. Isso demonstra que ainda existe um longo percurso até que a melhoria da água atinja um nível aceitável e compatível com o do maior rio do estado de São Paulo.  

Um ano de muita seca e de grandes incêndios

Ao longo do último ano, ouvir relatos de secas e de incêndios não foi raridade. Consequência das mudanças climáticas, o Brasil viveu um período de crise hídrica, que incluiu o racionamento e rodízios de abastecimento em muitas cidades, e incêndios históricos, que demandaram do poder público a decretação de estado de emergência. Alguns levantamentos apontaram que este é o pior cenário de eventos climáticos extremos do século. Ainda, segundo dados do Projeto MapBiomas, de 1985 a 2020, 6,5% da Mata Atlântica queimou ao menos uma vez, ou seja, uma área equivalente a 7,1 milhões de hectares. Além dos prejuízos à fauna e à flora brasileiras, essa crise prejudica também a saúde humana, com efeitos diretos em doenças respiratórias, por exemplo.  

Conhecimento e informação sobre a Mata Atlântica

Sensibilizar e levar informações de qualidade sobre a Mata Atlântica para um público cada vez maior é parte da missão da SOS Mata Atlântica. Acreditamos que o conhecimento é o motor mais forte de mudança. Em 2021 nossa equipe dedicou mais de 200 horas para participar de eventos, palestras, seminários, encontros e lives, o que nos permitiu alcançar um público estimado de 13 mil pessoas. Também realizados os nossos próprios eventos, como o Viva a Mata virtual e os encontros da série Mata Atlântica em Debate, que trouxeram para a pauta os temas do plástico, produção de alimentos, Áreas Protegidas, os 2 anos do crime de Brumadinho e a crise hídrica, entre outros. Ao longo do ano elaboramos com o Instituto Singularidades e demos início ao curso online “Mata Atlântica vai à Escola”, para professores e coordenadores do ensino médio. Ao todo, foram 2.120 inscritos, de 26 estados e 617 municípios. Com apoio da HEINEKEN no Brasil, a conclusão está prevista para fevereiro de 2022. Também realizamos quatro edições do curso Somos a Mata Atlântica, destinado a lideranças e interessados por meio ambiente nas regiões de Aparecida, Itu, Promissão - onde temos projetos de restauração florestal -, e 34 municípios de SP e MG sob influência de usinas da AES Brasil, com certificação do Instituto Romã.  

Participação na 26ª COP sobre mudanças climáticas

A principal cúpula da ONU sobre o clima se reuniu de 31 de outubro a 12 de novembro, na Escócia. Representantes públicos, instituições do terceiro setor, a sociedade civil e outras partes interessadas debateram sobre aquecimento global, as possíveis ações de redução de emissões e sobre as metas para combate ao problema. A SOS Mata Atlântica enviou dois representantes: Mário Mantovani, responsável pelo Advocacy da ONG, e Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento. Além de acompanhar as discussões, a Fundação, em parceria com outras instituições, lançou um estudo inédito sobre as emissões de gases de efeito estufa na Mata Atlântica, trazendo ao debate possíveis soluções efetivas no combate às mudanças climáticas no Brasil.  

Os dez anos de trabalho com o Projeto Toyota APA Costa dos Corais

Em 2011 a SOS Mata Atlântica, a Fundação Toyota do Brasil e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) firmavam o compromisso de promover a conservação da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais. A área abrange nove municípios do Alagoas e três de Pernambuco, com uma importante riqueza de recife de corais, de manguezais, de fauna e flora locais e também de ecossistemas associados ao peixe-boi-marinho – mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil. Nesta primeira década de história, mais de 68 mil pessoas foram conscientizadas sobre as diretrizes do Plano de Maneja da APA, mais de mil atendimentos a espécies encalhadas foram realizados na região e mais de 18 peixes-boi-marinhos foram reintroduzidos na natureza.  

Unidades de Conservação Costeiras na Mata Atlântica

Mais de 70% da população brasileira vive na Mata Atlântica e a maior parcela é encontrada próximo às áreas costeiras. Historicamente essas áreas foram muito degradadas em razão do desenvolvimento de atividades econômicas. No entanto, na última década, houve uma expansão das Unidades de Conservação Marinha oceânicas. Somente no Brasil, mais de 903 mil km² de áreas protegidas foram criadas. Embora seja significativo, o estudo lançado em 2021 pela SOS Mata Atlântica demonstra que nosso litoral e ecossistemas costeiros ainda carecem de proteção, especialmente no contexto de efeitos das mudanças climáticas. A tendência mundial para os próximos dez anos é fortalecer a conservação marinha, acordando metas ainda mais fortes e ambiciosas. O relatório, além de apresentar os níveis de conservação atual, propõe caminhos para alcance dos objetivos globais, enfatizando em soluções que incluam o desenvolvimento de políticas públicas.  

Atuação em Políticas Públicas e participação em Observatórios

O Brasil é um país de dimensões continentais. Só a Mata Atlântica se distribui por 17 estados, na região mais populosa e com a maior concentração de atividades humanas. Sua conservação exige, no mínimo, uma atuação conjunta entre organizações do terceiro setor, empresas, poder público e sociedade civil. Por isso, a SOS Mata Atlântica procura participar ativamente de redes e observatórios que promovem o diálogo e a atuação conjunta em demandas de proteção ambiental. São exemplos a Rede de ONGs da Mata Atlântica, o Observatório do Código Florestal, o Observatório do Clima, a Coalizão Pró-Unidades de Conservação, o Observatório de Governança da Água e outros. Unimos e dividimos a nossa expertise a de outros representantes, somando esforços e tornando as ações mais abrangentes e mais efetivas. Dessa maneira, conseguimos em 2021 frear desmontes ambientais, levantar dados nacionais e fazer chegar informações de qualidade a um maior número de cidadãos. A SOS Mata Atlântica também entende que esses resultados só se tornam efetivos e duradouros quando estão atrelados a políticas públicas. Assim, além de acompanhar medidas legislativas em andamento, busca encaminhar propostas, junto à Frente Parlamentar Ambientalista, que garantam a proteção da Mata Atlântica e do meio ambiente, de forma a assegurar o direito constitucional a um meio ambiente saudável à presente e às futuras gerações.  

Parcerias

A Fundação SOS Mata Atlântica, desde a sua criação, trabalha por meio de parcerias. Algumas começaram muito antes de 2021, mas se mantiveram trazendo bons resultados, como é o caso do trabalho com a Ypê, o Grupo Heineken no Brasil, a Fundação Toyota do Brasil, a Nespresso, a Suzano, o Santuário Nacional Aparecida, a Coca-Cola/Femsa, a AES Brasil, a Scania Latin America, a Microsoft, a Colgate, a Copapa, a Curaprox, a Klabin, o Instituto Semeia e o Instituto Humanize. Outras organizações somaram seus esforços no último ano, como a Nescafé, a Stanley, a Peanuts, a Granado, a Petronas, o Ifood, a XP Inc., a WSL e a Flex Foundation. A Fundação SOS Mata Atlântica convida você a conhecer todas as instituições apoiadoras, elas são exemplos das mais variadas formas de parcerias – do licenciamento a campanhas de marketing relacionadas à causa, passando pelo investimento direto em agendas prioritárias de conservação e restauração do meio ambiente. São organizações que inspiram por entenderem que suas atividades dependem de um ambiente equilibrado e saudável. Para dar ainda mais transparência às nossas ações, a SOS Mata Atlântica lançou neste ano um aplicativo para os apoiadores do programa Florestas do Futuro. Por meio dessa ferramenta, as empresas parceiras conseguem acompanhar detalhes dos plantios de árvores nativas, ter acesso a mapas e fotografias, rever documentos e relatórios, além de ter todos os dados georreferenciados. Outra importante forma de parceria inclui o trabalho conjunto para fortalecimento de Unidades de Conservação na Mata Atlântica. Nestes últimos anos trabalhamos unidos a Klabin, ao Instituto Humanize, ao Instituto Semeia e a outras organizações que compartilham conosco da missão de proteção ao meio ambiente.  

Centro de Experimentos Florestais

O Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica – Grupo HEINEKEN no Brasil  é um lugar muito especial para nós. Há 14 anos dávamos início ao trabalho de restauração na área que havia sido ocupada por plantações de café e criação de gado. Desde então, foram plantadas cerca de 720 mil mudas de árvores nativas na fazenda, que são constantemente acompanhadas. O Centro também passou a sediar as atividades de restauração da floresta desenvolvidas pela SOS Mata Atlântica, além de abrigar ações de educação ambiental,  pesquisa e capacitação técnica. Na área também funciona um viveiro com capacidade de produção anual de até 700 mil mudas de 120 espécies da Mata Atlântica. Para comemorar esses anos de dedicação, a SOS Mata Atlântica, em parceria com o Grupo HEINEKEN no Brasil, lançou a visita virtual em 360 graus. Uma possibilidade singular de conhecer o trabalho e estar em contato com a Mata Atlântica.  

O que esperamos para 2022?

No cenário brasileiro, o próximo ano será marcado pelas eleições para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Os períodos eleitorais são sempre muito sensíveis para a causa ambiental. Por um lado, há uma corrida pela aprovação de medidas legislativas, que por vezes coloca em xeque a proteção ao meio ambiente. Por outro, é o momento de conhecermos novas propostas, pressionarmos por mudanças e votarmos com consciência. A crise hídrica, que já tem trazido inúmeros desafios para a população e setores produtivos, deve se intensificar em 2022. Esse tema precisa ser priorizado pelos gestores e candidatos. A Fundação acredita que um desenvolvimento mais sustentável e a conservação do patrimônio natural dependem fortemente da elaboração e implementação de boas políticas públicas. Por isso, independente de questões partidárias, é preciso trazer à sociedade informações de qualidade sobre o meio ambiente, para uma tomada de decisão responsável. Vale dizer também que os candidatos precisam conhecer a realidade socioambiental do país, as prioridades e as possibilidades para inserir a pauta em seus planos de governo. A SOS Mata Atlântica estará comprometida em divulgar dados sobre o bioma onde vive a maior parte dos brasileiros, fazer pressão pela manutenção e recuperação da nossa floresta e cobrar medidas que ampliem sua preservação. Internacionalmente haverá a ampliação dos esforços para tornar a Mata Atlântica conhecida e reconhecida. Acreditamos que o bioma possa servir de modelo para evitar a degradação da Amazônia e para o alcance das metas brasileiras de clima, por exemplo. Também acreditamos no potencial comercial dos produtos nativos do bioma e do ecoturismo – realizado de maneira a valorizar o meio ambiente e a gerar o mínimo impacto às relações naturais. Essas atividades podem ajudar a ampliar a geração de emprego e renda, se o seu real potencial das florestas brasileira for bem aproveitado. Esse esforço também inclui a tentativa de atrair novos investidores e parceiros para ações de restauração de conservação da Mata Atlântica, que somados a empresas e instituições brasileiras podem potencializar os resultados. Todas essas ações serão sustentadas por uma importante força-tarefa com a sociedade civil. A dedicação nas frente de comunicação e mobilização continuarão sendo uma prioridade da SOS Mata Atlântica. Acreditamos na importância de contar com cidadãos bem-informados e engajados para mudarmos para melhor nossa realidade. Assim, continuaremos investindo em divulgações pelas redes sociais, relacionamento com a imprensa, com voluntários, doadores, diálogos com os mais variados setores, participações em redes e observatórios e, o mais importante, na construção de um legado ambiental.

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