Lar da maioria da população, Mata Atlântica sofre com recorde de desastres naturais

22 de January de 2025

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) divulgou no início deste mês o número recorde de alertas de desastres naturais, como enxurradas e deslizamentos de terra, que foram registrados em 2024. Foram 3.620 alertas, o maior número desde 2011, quando essas atividades começaram a ser monitoradas.

A maior parte aconteceu em grandes centros urbanos, como Belo Horizonte, São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, e por toda a área costeira do Brasil, regiões que estão inseridas na Mata Atlântica. Dos 10 municípios que lideram os rankings de alertas e desastres, 8 estão no bioma, que também abriga a maioria da população brasileira (cerca de 70%).

Tais dados evidenciam a necessidade de a Mata Atlântica ser considerada com prioridade no desenvolvimento de políticas públicas de prevenção e resposta a tais eventos. “A mudança climática está aqui, e a ação diante disso é de adaptação”, defende Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica.

Gráfico: Divulgação Cemaden

Relação com a mudança climática

Apesar de acontecerem há muitas décadas, esses tipos de desastres estão se tornando cada vez mais frequentes e com impactos cada vez maiores. Só neste ano, centenas de pessoas já foram impactadas por chuvas de grandes proporções em Minas Gerais e na Bahia.

Isso é resultado direto das mudanças climáticas, que causam eventos extremos como essas chuvas, uma realidade confirmada pelas milhares de pesquisas científicas reunidas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

No caso dos alertas, o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Osvaldo Moraes, conta que o desastre contabilizado pelo Cemaden é a consequência do chamado evento extremo, e não o evento em si.

O recorde de alertas também é explicado pelo aumento no número de municípios monitorados, que hoje chega a 1.133, cobrindo cerca de 60% da população.

Onde mora o perigo

Além do agravamento por conta do aquecimento global, que é resultado principalmente do uso de derivados do petróleo, como gasolina e diesel, e pelo desmatamento, a falta de áreas nativas e protegidas deixa os locais e suas populações mais vulneráveis aos desastres.

Hoje, há menos de 30% da área original de floresta na Mata Atlântica, abaixo do limite considerado sustentável para um bioma. “Precisamos proteger o que resta da floresta e direcionar esforços para a restauração de áreas degradadas, especialmente em locais estratégicos para a contenção de eventos extremos, como as mata ciliares no entorno dos rios, áreas de encostas e as vegetações costeiras”, completa Guedes Pinto.

Esta gestão do território é uma ação estrutural que pode salvar vidas, identificando as áreas de risco e redirecionando a população para lugares seguros.

A restauração dos ecossistemas ajuda tanto a combater as mudanças climáticas, uma vez que “absorve” os gases causadores do aquecimento global, quanto a adaptar o ambiente às mudanças que já estão acontecendo.




Foto: Rua em Porto Alegre (RS) após enchentes em junho de 2024. Bruno Peres/Agência Brasil

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