Bioma mais devastado do Brasil, Mata Atlântica é central no combate às crises de biodiversidade e clima e demanda esforços globais de conservação e restauração

28 de October de 2024

Lançado na Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP16), relatório produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica traça um panorama dos desafios enfrentados pelo bioma e as oportunidades para seu futuro em consonância com as metas do Marco Global da Biodiversidade (GBF) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) 

A Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos e diversos do mundo, cobre cerca de 15% do território brasileiro – se estendendo até o Paraguai e a Argentina. Considerando apenas as espécies da flora, é o lar de mais de 20 mil espécies conhecidas, das quais cerca de 6 mil são endêmicas – ou seja, só existem ali – e foi classificada como um dos 36 hotspots globais de biodiversidade. Seus serviços ecossistêmicos (como, por exemplo, regulação climática e purificação da água) beneficiam diretamente mais de 145 milhões de pessoas no Brasil. No entanto, esse bioma é também o mais ameaçado do país: restam apenas 24% de sua cobertura florestal original, espalhada em pequenos fragmentos (97% deles com menos de 50 hectares).

O bioma tem também papel central no combate à crise climática – com potencial para sequestrar carbono e mitigar as mudanças climáticas. Um estudo da revista Nature indica que a restauração de apenas 15% das áreas prioritárias no mundo poderia evitar 60% das extinções de espécies previstas e sequestrar 30% das emissões de CO2 acumuladas desde a Revolução Industrial – sendo a Mata Atlântica uma delas.

Contudo, apesar de sua importância para o Brasil e também para o mundo, a Mata Atlântica tem pouca visibilidade no cenário internacional. O novo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, Reducing threats to a global biodiversity hotspot: tracing baselines for the GBF implementation in the Brazilian Atlantic Forest, busca preencher essa lacuna de conhecimento ao destacar a urgência de ações coordenadas para preservar e restaurar o bioma.

O documento, lançado durante a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP16), em Cali, na Colômbia, traça um panorama dos desafios que a Mata Atlântica enfrenta e as oportunidades para seu futuro em consonância com as metas do Marco Global da Biodiversidade (GBF) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD). A Fundação participa do evento com o apoio do Avião Solidário da Latam Airlines. Um dos pontos centrais abordados é a necessidade de ampliar as Unidades de Conservação no bioma, que somam apenas 10% de sua área, e aumento da restauração. O fortalecimento desses espaços e a criação de novas unidades são essenciais para a conservação de espécies ameaçadas e para a integridade ecológica da Mata Atlântica. 

A publicação discute ainda o caminho necessário para o Brasil cumprir o compromisso de zerar o desmatamento no bioma e restaurar 30% de suas áreas degradadas até 2030. Para Diego Igawa Martinez, coordenador de projetos da SOS Mata Atlântica, as lições de governança das experiências passadas na Mata Atlântica podem ser consideradas para políticas públicas voltadas para a Amazônia e outros biomas brasileiros e em outros países. “A Mata Atlântica conta com marcos institucionais e legislação, dados, monitoramento e ações de gestão espacial em andamento. Portanto, alcançar o desmatamento zero no bioma brasileiro mais degradado é viável e precisa ser atingido antes do final desta década”, afirma.

Outros temas que ganham destaque no documento são a importância de integrar políticas públicas com incentivos econômicos, como o desenvolvimento de uma bioeconomia sustentável, e o papel das comunidades indígenas e locais.

No cenário de crescente crise climática, o relatório da SOS Mata Atlântica oferece um chamado urgente à comunidade internacional para apoiar os esforços de conservação e restauração da Mata Atlântica. O bioma mais ameaçado do Brasil tem um papel-chave tanto na preservação da biodiversidade quanto na estabilidade climática global – e a sua recuperação depende de uma ação coordenada entre governos, sociedade civil e o setor privado no Brasil em todo o mundo.

“A conservação e a restauração da Mata Atlântica têm um papel importante para combater as crises globais do clima e da biodiversidade e para garantir serviços ecossistêmicos para a maior parte da população e do PIB brasileiro”, explica Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica. Ele conta que, embora tenha uma cobertura florestal relativamente estável, o bioma perdeu 3,7 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2023. “O desmatamento persiste em uma escala que segue ameaçando o seu futuro. Portanto, o alcance do desmatamento zero imediato e do aumento da escala e da velocidade da restauração do bioma são fundamentais para garantir o seu futuro e dos seus serviços ecossistêmicos”, completa.

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