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31 de March de 2023
“Isso acontece porque deixa de exigir que o empreendedor (de rodovias, linhas de transmissão etc.) analise se há vegetação primária antes da instalação da obra. Hoje, quando isso acontece, ele tem de indicar uma rota alternativa, que não descaracterize aquela área. Isso, por si só, já seria um desastre. Mas há mais retrocesso: o texto incentiva a expansão urbana sobre a área de preservação permanente, ao retirar as poucas salvaguardas que existem na legislação, inclusive já fragilizadas no fim de 2021, quando o Congresso mexeu nesse mesmo dispositivo, ao permitir que qualquer rio pode ser ocupado se a legislação municipal permitir. Sabemos que órgãos municipais costumam ser muito mais suscetíveis à pressão dos empreendimentos imobiliários”, ressalta.
Maurício Guetta, consultor jurídico do Instituto Socioambiental (ISA), também avalia que há inconstitucionalidade. "A redação aprovada está cheia de contrabandos legislativos, com diversos retrocessos, sem relação com o tema original da medida provisória. Ao fazer isso, além de incorrer em inconstitucionalidade formal, o texto propõe verdadeiro desastre ambiental para o pouco que sobrou da Mata Atlântica, para as Unidades de Conservação e, inclusive, para áreas de risco no entorno de rios. Em meio a tantas tragédias, como a que vemos hoje no Acre, a Câmara se volta contra a população brasileira e o meio ambiente para beneficiar meia dúzia de interesses empresariais”, disse.
Em relação à alteração na lei de Unidades de Conservação, como parques e reservas, Valle explica que foi tirado o poder do órgão regulador de definir as zonas de amortecimento no entorno de áreas que precisam ser protegidas.
A deputada Fernanda Melchiona (PSOL-RS) se manifestou no plenário e destacou que “não se pode aceitar jabutis” na Câmara dos Deputados. “Não foi uma ou duas vezes, e aqui é um jabuti gigante. Só que nós fomos surpreendidos pelo relator pois ele incorporou ao texto-base, então não é um destaque que vai destruir a Mata Atlântica, é o texto-base que vai ser votado, e isso é importante alertar aos parlamentares. Porque o que está sendo votado no texto (...) é justamente a possibilidade de acabar com a Mata Atlântica em estágio de vegetação médio e avançado por grandes obras de infraestrutura. Estão botando na lata do lixo o acordo que o Brasil fez na COP e inviabilizando assim a meta de chegar ao desmatamento zero. Isso vai permitir o aumento do desmatamento no bioma e não honrar compromissos assumidos, num bioma dos mais atacados, mais diversos”, disse ela.
Código Florestal
Roberta del Giudice, do Observatório do Código Florestal, disse que a aprovação da MP “envia um comando de que a lei vai ser prorrogada eternamente, que as normas não precisam ser cumpridas”. “E manda, ainda por cima, uma mensagem para fora do Brasil que nós não vamos parar de adiar nossa lei, não vamos implementar nosso Código Florestal”, disse.
Para Valle, além de adiar mais uma vez o prazo de adesão dos proprietários de terras ao Cadastro Ambiental Rural para fazer restauração, a MP adicionou um entrave: ela estabelece que, para se iniciar esse processo, todos os cadastros precisam ser analisados e validados. “Não há qualquer tipo de benefício para que os proprietários possam seguir voluntariamente. Mais uma vez, desmoraliza a lei ao travá-la.”
A bancada do PT votou a favor da MP e contra as emendas. “Declaramos novamente aqui, fugindo do que foi construído no texto principal, a partir dessas emendas complicadas, (...) orientaremos pelo veto do presidente Lula. Do jeito que está ficando não teremos outro caminho, votaremos a favor do texto e contrário às emendas”, afirmou Airton Faleiro (PT-PA).
*Com informações do Observatório do Clima e Observatório do Código Florestal